A crise era nacional. Toda uma nação estava em perigo iminente: o decreto ordenava a morte dos judeus. Muito aflita, a rainha Ester envia este recado a Mordecai: “Vá e reúna todos os judeus que estiverem em Susã, e jejuem por mim. Não comam nem bebam nada durante três dias, nem de noite nem de dia. Eu e as minhas servas também jejuaremos. Depois, irei falar com o rei, ainda que seja contra a lei; se eu tiver de morrer, morrerei” (Ester 4:15-17).

Diante da tensão que tirava a tranquilidade de milhares, a rainha propôs um jejum como preparativo para a resolução do conflito. O que aconteceu? Sabemos o fim dessa história: Deus poupou a vida dos judeus, transformando a angústia em paz e alegria.
- SIGNIFICADO DO JEJUM
Como se pode perceber no incidente narrado acima, o jejum era considerado uma prática muito importante na vida do povo de Deus. Mas, o que ele significa? Um breve olhar nas palavras bíblicas é bastante esclarecedor. O substantivo hebraico tsom pode ser traduzido como “rápido” ou “jejum”, enquanto o verbo “jejuar” é tsum. Além disso, a expressão vétero testamentária “afligir a alma” se refere ao jejum; essa expressão ilustra o fato de que o jejum bíblico era mais um exercício espiritual do que a tentativa de punir a carne de alguma forma. Por outro lado, o jejum também enfatizava que a vida espiritual do povo de Deus era mais importante do que sua existência física.[1]
No Novo Testamento, nestis significa “ter o estômago vazio”; desta palavra derivam nesteuo, “jejuar”, e nesteia, “jejum”. Tanto em sua forma verbal e substantivada, essas palavras significavam “não comer”, “abster-se de comida”, “passar fome”.[2] Assim, o estudo das palavras bíblicas e a avaliação da prática entre o povo nos mostra que jejuar geralmente significava ficar sem comida e bebida por um período, e não apenas abster-se de certos alimentos.[3]
- RAZÕES PARA A PRÁTICA DO JEJUM
Não havia um mandamento específico que orientasse o jejum dos israelitas, mas a leitura da Bíblia deixa evidente que certas ocorrências privadas e públicas motivavam o jejum; vamos mencionar algumas delas.[4]
a. Guerra ou ameaça
Israel jejuou em Betel, na guerra contra os benjamitas (Jz 20:26); em Mispa na guerra filistina (1Sm 7:6); Saul não comeu durante todo o dia e toda a noite antes de sua visita à feiticeira de En-Dor (1Sm 28:7-20). O jejum poderia ser imposto sobre guerreiros numa campanha (Jz 20:26; 1Sm 7:6), embora a evidência seja insuficiente para concluir que ele sempre foi exigido. Saul lançou uma maldição sobre o homem que comesse antes da noite, a fim de se vingar de seus inimigos filisteus. A desobediência de Jônatas da ordem de seu pai lhe custaria a vida se o povo não interviesse (1Sm 14:24ss.).
b. Doença
Davi jejuou e chorou por seu filho enquanto o menino estava doente, mas quando o menino morreu, contrário às expectativas de seus servos, ele se lavou, se ungiu, entrou na casa do Senhor e então pediu pão (2Sm 12:16ss.). O salmista também menciona o jejum por seus amigos doentes (SI 35:13).
c. Luto
Os homens de Jabes-Gileade jejuaram sete dias por Saul (1Sm 31:13; 1Cr 10:12); Davi e o povo jejuaram por Saul e Jônatas (2Sm 1:12); e o costume do jejum no luto é considerado um comportamento normal (12:21).
d. Penitência
Calamidades eram considera das manifestações da ira divina. Entretanto, os atos de penitência eram uma forma de acabar com elas. Talvez neste aspecto deva ser interpretado o jejum pedido por Jezabel, no qual o destino de Nabote foi decidido (1Rs 21:9ss.). Acabe jejuou após ser ameaçado por Elias por ter tomado a vida de Nabote e sua vinha (21:27). O jejum geral por ocasião da leitura pública da lei por Esdras foi um ato de penitência (Ne 9:1).
e. Perigo iminente
Josafá jejuou quando ameaçado por Moabe e Amom (2Cr 20:3). Jeoaquim proclamou um jejum no nono mês do seu quinto ano (Jr 36:9). Esdras conduziu um jejum quando procurava obter o favor de Deus concernente ao seu retomo do exílio (Ed 8:21) — uma jornada provavelmente cheia de muitos perigos, mas para a qual ele não queria pedir guardas armados. Neemias jejuou quando soube do estado de Jerusalém (Ne 1:4). Os judeus jejuaram quando ouviram que Hamã tinha obtido o decreto contra eles (Et 4:3); Ester e Mordecai jejuaram antes que ela fosse ao rei (4:16). O ataque de uma praga de gafanhoto poderia ocasionar um jejum, no qual todos os elementos da comunidade — pessoas, anciãos, crianças e até a noiva e o noivo — participariam (J1 1:14; 2;15).
f. Seca
Durante o 1º século, o jejum foi o método preferido de apelar ao Senhor por chuva. Se a chuva não caísse no devido tempo, primeiramente indivíduos jejuavam de maneira voluntária, mas se essa ação fosse ineficaz, um jejum público de três dias era proclamado. Se a chuva não caísse, mais três dias eram proclamados e, se necessário, mais sete, num total de treze. Estes eram de severidade progressiva. No primeiro, comer e beber após o anoitecer, lavar-se, ungir-se, colocar sandálias e ter relação sexual eram permitidos. No segundo período, esses eram proibidos e no último período as lojas eram fechadas, exceto às segundas-feiras, após o anoitecer, e às quintas-feiras. O shofar era tocado. O indivíduo não poderia se desassociar da comunidade neste período e recusar-se a jejuar. Esses costumes e outras práticas dejejum judaicos são temas longamente abordados no Tratado da Mishna, Ta‘anit.
- DURAÇÃO DO JEJUM
- Normalmente um jejum tinha a duração de um dia (Jz 20:26; 1Sm 14:24; 2Sm 1:12; 3:35) do nascer ao pôr-do-sol, após o qual poderia se comer.
- Ou o jejum poderia ser por uma noite (Dn 6:18).
- O jejum de Ester durou três dias, dia e noite, o que parece ser um caso especial (Et 4:16).
- Também é dito que Jesus jejuou dia e noite (Mt 4:2).
- No enterro de Saul o jejum de Jabes-Gileade foi de sete dias (1 Sm 31:13; 1Cr 10:12).
- Davi jejuou sete dias quando seu filho, nascido após seu caso amoroso ilícito com Bateseba, não estava bem (2Sm 12:16-18).
- O jejum de Moisés por quarenta dias (Ex 34:28; Dt 9:9), de Elias (1Rs 19:8) e de Jesus (Mt 4:2; Lc 4:2) são os mais longos registrados na Escritura.
- Uma forma alternativa de jejum poderia envolver abstinência de vinho, carne, comida saborosa e ungir-se por um período prolongado, tal como três semanas (Dn 10:2).[5]
- ATITUDES QUE DEVEM ACOMPANHAR O JEJUM
É necessário destacar que a prática do jejum era acompanhada por algumas atitudes muito importantes:[6]
1. Orações e súplicas
Daniel buscou ao Senhor “com oração e súplicas, com jejum, vestido de pano de saco e sentado na cinza” (Dn 9:3).
2. Confissão de pecados
Samuel e o povo de Israel jejuaram em Mispa, “e ali disseram: Pecamos contra o Senhor” (1Sm 7:6); da mesma forma, na época de Neemias os filhos de Israel se reuniram para jejuar, e “puseram-se em pé e fizeram confissão dos seus pecados e das iniquidades de seus pais” (Ne 9:1-2).
3. Humilhação
Moisés afirma: “Fiquei prostrado diante do Senhor durante quarenta dias e quarenta noites. Não comi pão e não bebi água, por causa de todo o pecado que vocês haviam cometido, fazendo o que é mau aos olhos do Senhor, para o provocar à ira” (Dt 9:18).
4. Leitura da Sagrada Escritura
O profeta Jeremias ordenou a Baruque: “Eu estou preso; não posso entrar na Casa do Senhor. Vá você até lá e, do rolo que você escreveu, segundo o que eu ditei, leia em voz alta todas as palavras do Senhor, diante do povo, na Casa do Senhor, no dia de jejum” (Jr 36:5, 6).
- Tipos de jejum
Três tipos de jejum são geralmente reconhecidos no cristianismo:
*normal, em que não há ingestão de alimentos por um período de tempo prescrito, embora possa haver ingestão de líquidos;
*parcial, em que a dieta é limitada, embora alguns alimentos sejam permitidos;
*e absoluto, em que há uma abstinência total de alimentos e líquidos em todas as formas.[7]
Conclusão
- Sempre devemos e é muito importante buscarmos auxílio do Senhor em todos os momentos. O jejum é uma ótima ferramenta que nos preparar para situações importantes.
- Vimos a importância do jejum e qual tipos de jejum você pode fazer, normal, parcial e o absoluto, procure fazer o mais ideal para você
- Se você está passando por uma situação difícil procure uma dessas práticas de jejum.

Querido Deus, ajuda-nos a nos aproximarmos mais de Ti através do jejum. Abre a nossa mente para que possamos ter o nosso coração transformado. Te pedimos em nome de Jesus, amem!


By: Pastor Wilson Barros