Os reflexos da vida digital no desenvolvimento cognitivo
e social de crianças e adolescentes. MAITA TÔRRES
QUEBRANDOOSILÊNCIO 25 – VIOLÊNCIA DIGITAL
O mundo virtual é fascinante, dinâmico e intuitivo, oferecendo um uni
verso de possibilidades e informações. No entanto, essa geração parece
estar pagando um alto preço devido à conexão ininterrupta. Especia
listas têm chamado a atenção, por exemplo, para os efeitos da internet no
desenvolvimento cognitivo e social de crianças e adolescentes. Nesta entre
vista, a psiquiatra Renata Figueiredo, presidente da Associação Psiquiátri
ca de Brasília (APBr), discute alguns sinais de alerta, formas de proteger os
filhos dos perigos virtuais e o caminho para construir um ambiente digital
mais saudável.
De que maneira o uso excessivo de dispositivos digitais afeta a mente?
O uso prolongado de telas pode prejudicar o desenvolvimento cognitivo, emocional e social de crianças e adolescentes. Entre os efeitos estão a redução da capacidade de concentração, a perda de interesse por atividades fora do ambiente digital, a dificuldade em estabelecer relações interpessoais e o aumento de sintomas de ansiedade e depressão. As mídias sociais e jogos virtuais são projetados para ser envolventes, oferecendo recompensas imediatas, o que interfere na capacidade de lidar com frustrações no mundo real.
Como os conteúdos violentos podem influenciar as atitudes de crianças e adolescentes?
*A exposição constante a ambientes virtuais hostis pode banalizar a violência, aumentando a predisposição a comportamentos agressivos no dia a dia. Esse tipo de conteúdo tem impacto dire
to no comportamento dessas faixas etárias, que ainda estão desenvolvendo suas capacidades intelectuais e emocionais.
*Jogos com esse teor, como os que promovem desafios na vida real, podem motivar ataques
em escolas ou locais públicos?
Nem todas as pessoas são influenciadas da mesma forma. No entanto, existe uma correlação
entre o consumo de jogos agressivos e a dessensibilização em relação à violência real. Em alguns
casos, esses jogos e desafios virtuais podem estimular comportamentos de risco, especialmente
em pessoas com predisposição para a violência ou outras vulnerabilidades psicológicas. Ambientes digitais que promovem ou incentivam desafios perigosos são extremamente preocupantes.
Quais ações a escola pode fazer no sentido de conscientizar seus alunos?
*As escolas devem promover o uso responsável da internet e discutir o impacto do conteúdo
digital no comportamento e na saúde mental.
A criação de programas educacionais que ensinem habilidades de autocontrole e resolução
de conflitos pode ajudar os alunos a lidar melhor com as influências negativas desse ambiente.
*Como os pais podem proteger seus filhos?
Os pais desempenham papel fundamental ao limitar o tempo de uso de telas e promover
atividades que incentivem o contato social e o desenvolvimento de habilidades interpessoais.
É essencial que monitorem o conteúdo que seus filhos consomem, proponham atividades em família e mantenham uma comunicação aberta sobre os riscos e benefícios do mundo digital.
Quais são os sinais de alerta?
*Mudanças de comportamento, irritabilidade,
agressividade, dificuldade para dormir, que
da no desempenho escolar e desinteresse por
atividades que antes traziam prazer são sinais
preocupantes. Se os pais perceberem explosões
de raiva frequentes ou atitudes mais violentas,
é importante buscar ajuda de um psicólogo
ou psiquiatra.
O que é necessário para ter um ambiente digital mais seguro e pacífico?
*É fundamental promover uma cultura que priorize as relações interpessoais, a empatia e
o respeito. Esse processo começa no ambiente familiar e se estende às escolas, comunidades
e também ao mundo virtual. Além de ensinar habilidades de resolução de conflitos e autocontrole, é importante que crianças e adolescentes aprendam sobre tolerância e compreensão
mútua. A religiosidade também pode desempenhar papel significativo na construção desse ambiente. A prática religiosa, com base em valores como o amor ao próximo, paz e solidariedade, é um fator de proteção contra comportamentos violentos e promove a valorização da vida. Quando integrados à educação e às práticas familiares, esses valores contribuem para um ambiente mais harmonioso.
