PERIGOS VIRTUAIS

QUEBRANDO SILÊNCO 2025

Queridos irmãos e irmãs, hoje vamos refletir sobre
uma questão urgente que afeta não apenas nossas famílias e comunidades, mas também nossas igrejas: a
violência na Internet. Em um mundo cada vez mais digital, onde a média global é de 6 horas e 58 minutos
por dia conectados1 , é vital que entendamos os perigos que existem nesse ambiente virtual e como podemos enfrentá-los à luz da Palavra de Deus. A Bíblia nos dá um conselho inestimável em Efésios 4:29: “

“Não saia da boca de vocês nenhuma palavra suja, mas unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem”.

Esse versículo do apóstolo Paulo nos convida a garantir que nossas palavras, tanto em nossos relacionamentos pessoais quanto em nossas interações digitais, sejam sempre positivas e edificantes. Paulo enfatiza a importância de falar de uma maneira que edifique, encoraje e beneficie os outros, em vez de destruir, ferir ou corromper. Na verdade, assim como ele está aplicando essa regra aos nossos relacionamentos interpessoais, podemos aplicar essa orientação aos nossos relacionamentos digitais. É por isso que hoje aprenderemos como podemos aplicar esse ensinamento em nossa vida e como proteger a nós mesmos e aos outros dos danos que a violência digital pode causar.

Os dados são fortes. Um estudo publicado em março de 2024, por uma conhecida empresa de segurança cibernética chamada Kaspersky, revelou que, em 2023, 52% dos latino-americanos sofreram algum tipo de assédio digital.

E isso inclui o abuso cibernético. Várias práticas como o doxing (divulgação não autorizada de informações pessoais on-line), o cyberbullying (que é o abuso e a discriminação praticados em ambientes digitais) e o grooming (aliciamento de menores para abuso), bem como o fraping (que é a prática de criar contas em redes sociais ou plataformas virtuais com informações falsas ou roubadas de outra pessoa para cometer fraudes) e o que é conhecido como sexting (compartilhamento de conteúdo sexual explícito que envergonha totalmente a pessoa).

Além disso, a pesquisa realizada pelo Childlight Global Child Safety Institute da Universidade de Edimburgo (Reino Unido) indica que uma em cada oito crianças no mundo foi vítima de algum tipo de violência sexual na Internet entre maio de 2022 e maio de 2023.


I. O PODER DAS PALAVRAS: IMPACTO NO MUNDO DIGITAL
O apóstolo Paulo nos aconselha em Efésios 4:29
que nossas palavras devem ser edificantes e não corrompidas. O que isso significa no contexto atual? No
mundo digital, as palavras “corrompidas” são aquelas que destroem, ferem ou fomentam o ódio. Isso inclui o cyberbullying (assédio online), insultos e qualquer tipo de comentário que possa prejudicar a integridade ou a reputação de outra pessoa. Não se trata apenas de falar
mal de alguém, mas as palavras muitas vezes constituem práticas criminosas que devem ser punidas legalmente.
Por outro lado, Paulo nos orienta a tornar nossas
palavras construtivas. Isso significa que devemos falar
e agir de maneira a fortalecer e encorajar os outros. No
ambiente digital, isso se traduz em compartilhar mensagens de esperança, amor e respeito. Devemos não apenas evitar o mal, mas também promover o bem, construindo uma comunidade digital saudável.
Nossas palavras também devem transmitir graça, ser gentis e compassivas, refletindo o amor de Cristo.
Em um mundo cheio de divisões, sejamos a voz da calma e da empatia, ajudando a curar em vez de ferir.
O sábio Salomão disse em Provérbios 18:21: “A morte e a vida estão no poder da língua; quem bem a utiliza come do seu fruto”. Em outras palavras, há um poder de vida e morte nas palavras que usamos. Uma vez que “são como penas levadas pelo vento”. Por isso, é preciso
refletir bem, antes de falar, pedir sabedoria a Deus para que nossas palavras promovam vida e fôlego.

II. HISTÓRIAS REAIS: EXEMPLO DO IMPACTO DA VIOLÊNCIA DIGITAL
Deixe-me compartilhar com vocês a história de Lucas, um jovem cheio de sonhos e aspirações que gostava de jogar videogames. No entanto, em um canto
escuro do mundo digital, ele encontrou um grupo que
fomentava o ódio e a violência. Com o tempo, Lucas começou a mudar: isolou-se e deu sinais de agressividade. Seus pais não sabiam como ajudá-lo até que, após
um incidente na escola, descobriram mensagens perturbadoras em seu telefone. Esse foi o ponto de virada que levou Lucas a receber a ajuda de que precisava.
Um centro de aconselhamento psicológico especializado, diálogos com seus pais e um grupo de professores comprometidos ajudaram Lucas a sair daquele círculo
que o manteve preso por muito tempo.
A história de Lucas nos mostra a importância de estarmos atentos aos sinais de alerta: mudanças comportamentais, isolamento social e tempo excessivo em
frente às telas. Como pais e educadores, somos chamados a ser guardiões de nossos lares. Devemos assumir o papel de guiar, liderar e proteger nossos filhos, assim
como o sábio Salomão ensina em Provérbios 22:6: “Ensine a criança no caminho em que deve andar, e ainda quando for velho não se desviará dele”.

III. NAVEGAÇÃO SEGURA E PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA
DIGITAL

Antes de olharmos para outro exemplo, é fundamental que entendamos alguns termos-chave usados
para descrever a violência on-line. Junte-se a mim e
gostaria que você pensasse se já ouviu falar de algumas
destas situações.
a. Cyberbullying: uso da Internet para assediar ou insultar alguém repetidamente. Isso pode incluir o envio de mensagens ofensivas, a disseminação de rumores falsos ou a publicação de fotos constrangedoras sem permissão.
b. Stalking: é quando uma pessoa segue e observa obsessivamente outra, tanto na vida real quanto on-line. Pode incluir o envio de mensagens indesejadas,
o aparecimento nos locais onde a pessoa está ou o
monitoramento de sua atividade on-line, o que gera
medo e sensação de insegurança na vítima.
c. Pornografia de vingança: é quando alguém compartilha fotos ou vídeos íntimos de outra pessoa sem
seu consentimento, geralmente como uma forma de
vingança após um rompimento ou conflito. Isso pode
causar muitos danos emocionais e sociais à vítima.

Outra história que gostaria de compartilhar com
vocês é a de Ana, uma jovem universitária que sofreu
cyberbullying após uma discussão nas redes sociais. Os
comentários ofensivos afetaram profundamente sua
saúde mental. Não foi fácil para ela, mas ela tomou uma
decisão. Ela discutiu o assunto com seus amigos e familiares. Além disso, apresentou uma queixa contra o
assediador. E para superar esse trauma, ela procurou
ajuda psicológica e pastoral. Foi essa ajuda profissional
e o apoio espiritual que ajudaram Ana a superar essa situação, mas com a ajuda de sua família e amigos, ela denunciou o assediador e buscou apoio psicológico.

Sua história não é apenas de superação, mas também de transformação: hoje Ana lidera uma campanha
de conscientização sobre cyberbullying, ajudando outras
pessoas a enfrentar e superar essas situações.
Só quem vive essas situações de perto entende que
o impacto da violência digital nas vítimas é profundo e
duradouro. A cultura do cancelamento e o cyberbullying
podem causar graves danos psicológicos!
Ellen G. White, falando sobre os ensinamentos de
Jesus em relação ao poder da comunicação eficaz, escreveu: “[…] as palavras de Cristo no monte condenam as galhofas, as futilidades, as conversas impuras. Exigem
que nossas palavras sejam, não somente verdadeiras,
mas puras” (O Maior Discurso de Cristo, p. 68).

Pais, líderes religiosos e educadores devem estar
atentos a essas formas de violência digital, buscando
promover uma cultura de comunicação não agressiva e
construtiva. A Bíblia nos instrui em Colossenses 4:6: “Que
a palavra dita por vocês seja sempre agradável, temperada com sal, para que saibam como devem responder a cada um.”
As palavras têm poder, e devemos usá-las para
construir, não para destruir. Os que aprenderam de Cristo
não terão parte nas obras infrutíferas das trevas. Em sua
maneira de falar, bem como em suas vidas, eles serão
simples, sinceros e verdadeiros, pois estão se preparando para a comunhão com os santos em cujas bocas não foi encontrada mentira. Nesse sentido, nossas igrejas e
escolas devem ser lugares onde se ensina a importância
de um ambiente seguro.
Lembro-me de que uma família que conheci depois
de uma de minhas palestras sobre os cuidados que devemos ter no ambiente digital decidiu implementar um “Dia sem Telas”. Uma vez por semana, essa família eliminava o uso de dispositivos eletrônicos em sua casa. Esse dia era dedicado a atividades ao ar livre, leitura da Bíblia
e jogos em família. Os pais notaram uma melhora significativa na interação e comunicação familiar, e seus filhos começaram a desenvolver interesses e habilidades fora
do mundo digital.
Acredito que os líderes e educadores da igreja devem implementar iniciativas semelhantes. Incentivar
tempo desconectado, momentos de interação e diálogo
relacional. Ao mesmo tempo, definir limites claros para o
uso do dispositivo e incentivar atividades saudáveis fora
das telas. Isso ajudará a preparar os jovens para os desafios da vida e promoverá interações sociais saudáveis.


IV. NOSSA RESPONSABILIDADE COMO CRISTÃOS NO
MUNDO DIGITAL

Jesus nos chama para sermos “sal da Terra” e “luz
do mundo” (Mateus 5:13, 14). Isso significa que devemos
usar nossas palavras e interações digitais para sermos
uma influência positiva no mundo. Não podemos ficar
calados diante da violência digital, mas devemos nos
manifestar e defender uma comunicação respeitosa e
edificante.
Como cristãos, temos a responsabilidade de promover relacionamentos saudáveis e seguros, tanto no mundo físico quanto no digital. Se você, ou alguém que você
conhece, foi vítima de alguma dessas formas de violência
digital, procure ajuda. Deus prometeu curar nossas feridas emocionais e Ele cumprirá essa promessa.

Gostaria de encerrar esta mensagem com uma reflexão: Como estamos usando nossas palavras na Internet? Estamos edificando ou destruindo? Hoje é um
ótimo momento para nos comprometermos a ser uma influência positiva, usando nossas plataformas digitais para transmitir amor, respeito e esperança.
Quero dar quatro dicas que podem ajudar a tornar
nossa comunicação diária mais educativa, menos agressiva e mais compatível com as expectativas de Deus para Seus filhos neste mundo:

Encha sua mente e coração com a Palavra de
Deus. A boca fala do que o coração está cheio.
Leia Mateus 12:34.

  1. Promova bons conceitos e boas ideias e evite ali
    mentar a ofensa, a agressividade e o desrespei
    to nas mídias sociais, envolvendo-se em dispu
    tas argumentativas intermináveis e improdutivas.
    Use palavras e imagens com sabedoria e respeito
    para ensinar algo aos outros. Aplique Colossen
    ses 4:6.
  2. Faça com que a mensagem seja o centro de suas
    mensagens, e não a raiva, a mágoa ou o desejo
    de menosprezar os interlocutores no ambiente
    digital. Quando você se conectar com pessoas
    nas mídias sociais, faça-o com respeito. Pratique
    Mateus 7:12.
  3. Pense antes de postar. Pense duas, três, quatro
    vezes antes de dar a alguém uma resposta amar
    ga, rude ou sarcástica. Lembre-se de que sua re
    putação é construída com pequenos gestos. E,
    claro, lembre-se de que Deus vigia todos os tipos
    de conversas que temos, incluindo aquelas que
    se desviam dos planos de Deus para o cuidado
    dos menores e dos mais vulneráveis. Você é responsável perante o Céu pelo que diz e pelo tipo
    de influência que exerce. Reflita sobre Mateus 12:36 e 37



Oremos juntos, agora, para que Deus nos guie por
este caminho e nos ajude a ser defensores da paz e da
justiça, também no mundo digital:

Querido Deus,
Pedimos que nos dê sabedoria para usar a tecnologia de maneira que honre o Teu nome. Ajuda-nos a ser defensores da paz e da justiça em todos os espaços, inclusive nos digitais. Que nossas palavras reflitam sempre o amor de Cristo.
Amém.


Jorge Rampogna
Diretor do Departamento de Comunicação
Divisão Sul-Americana

feridas emocionais