QUEBRANDO O SILÊNCIO
Fechar portas e janelas, ativar alarmes e instalar grades e câmeras de monitoramento são medidas importantes para preservara segurança de uma casa. Mas o que deve ser feito para proteger física e emocionalmente as pessoas que vivem em nosso lar, especialmente as crianças e adolescentes?
Sem dúvida, a família é o nosso maior patrimônio e precisa ser protegida das ameaças que, às vezes, estão mais perto do que se imagina.
Depois de assistir a uma palestra sobre abuso sexual, Joana
(nome fictício), de 57 anos, pediu para conversar com a palestrante.
Entre soluços, ela contou que, dos 9 aos 14 anos, havia sido vítima
desse crime. Um cunhado, esposo de sua irmã mais velha, tinha livre
acesso ao quarto dela todas as vezes que visitava a família nos fins de
semana. Durante a noite, ele a beijava e acariciava suas partes íntimas.
Desde a primeira vez, Joana pediu ajuda, mas a família ignorou
sua fala, alegando que era fantasia da sua cabeça, pois o cunhado
jamais procederia daquela forma. Além da culpa, ela carregou as
cruéis consequências dessa agressão durante anos. Tinha confusão
de pensamentos, baixo rendimento no trabalho, crises de pânico,
sérios problemas no relacionamento sexual com seu esposo, além da
sensação de abandono por sua própria família, que não a protegeu.
Com ajuda profissional, Joana está vivenciando um processo de
restauração e cura. Sim, mesmo quando o pior acontece, é possível
superar os profundos traumas do abuso sexual.
Deus pode transformar histórias tristes em testemunhos de superação.
Segundo o “Relatório do Status Global sobre Prevenção da Violência contra Crianças 2020”, publicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância
( Unicef) e pela Organização das Nações Unidas para Educação,
Ciência e Cultura (Unesco), uma em cada oito crianças sofre algum
tipo de violência (física, psicológica ou sexual). Essa estatística é
assustador a porque é nessa fase que crianças e adolescentes têm
maior potencial para um desenvolvimento saudável. Os números
revelam também que o perigo, muitas vezes, mora dentro da própria casa. Dados do
boletim epidemiológico do Ministério da Saúde brasileiro, intitulado “Notificações
de Violência Sexual Contra Crianças e Adolescentes no Brasil: 2015 a 2021”, revelam
que 68% dos casos de abuso contra crianças e 58% das ocorrências contra adolescentes
são praticados por familiares e conhecidos.
Porém, esses números alarmantes não representam a realidade completa, pois muitos
casos ficam sem denúncia.
Diante dos fatos e traumas que envolvem o abuso sexual infantil, não podemos ficar
indiferentes. A Bíblia nos aconselha: “Não se deixe vencer pelo mal, mas vença o mal
com o bem” (Romanos 12:21).
Finalmente, é preciso entender que a violência sexual é crime e que o abusador deve
ser denunciado às autoridades competentes.
Você verá nesta edição que cabe a nós proteger nossas crianças, garantindo a elas o amor,
a segurança e o auxílio de que precisam. Embora não seja possível mudar o passado, vamos quebrar o silêncio e ajudar a construir um futuro diferente e melhor para elas.
JEANETE LIMA é educadora
e coordenadora do projeto
Quebrando o Silêncio na
América do Sul