Dia 10
PRIMEIRO DEUS: RUMO AO LAR
Texto bíblico:
“E lhes enxugará dos olhos toda lágrima. E já não existirá mais morte, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram” (Ap 21:4).
O relato que narra a queda da humanidade no pecado, registrado em Gênesis, é uma lembrança constante daquilo que Deus não havia planejado e que se tornou, por defeito, a única realidade que conhecemos (Gn 3:1-24). As consequências que a desobediência do primeiro casal humano trouxe a este mundo são diversas. A separação da presença de Deus (Gn 3:24), os conflitos no lar (Gn 3:12-13; 4:1-7) e a morte (Gn 3:21; 4:8) são só alguns dos efeitos do pecado que estão
presentes no dia a dia que vivemos.
No entanto, Deus tinha um plano distinto para a humanidade (Gn 1:26-29; 2:8-15). Isso porque nunca foi plano de Deus que habitássemos em uma terra amaldiçoada pelo pecado (Gn 3:14-15, 17-19),
lugar em que reinam a dor, a doença (Gn 3:16) e as dificuldades laborais (Gn 3:17-19). A única esperança que existe para este mundo é Jesus retornar e restaurar todas as coisas. Hoje, o último dia da nossa
série, estudaremos o significado e os alcances dessa nova criação.
Para isso, examinaremos os dois últimos capítulos do Apocalipse,
observando o ressurgimento do paraíso que nossos pais perderam
no Éden. E, como Deus afirma, ver como o pecado e suas consequências não existirão mais (Ap 21:1-22:5).
E O MAR JÁ NÃO MAIS EXISTIRÁ (Ap 21:1)
João teve o grande privilégio de ver a Terra restaurada. “E vi”, declara João, “novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passaram” (Ap 21:1). Embora o firmamento e a Terra tenham sido
criados por Deus (Gn 1:7-10) e fossem muito bons para Ele (Gn 1:31),
João faz alusão ao fato de que ambos representam a criação deformada pelo pecado (Gn 3:17) e, portanto, deixarão de existir (Ap 21:1).
Então, nossa esperança deve ser colocada sobre o adjetivo “novo”;
palavra que não deve ser entendida no sentido de reciclagem ou
remodelação. Deus não esconderá as falhas deste mundo nem varrerá para debaixo do tapete a poeira que ninguém quer ver. É uma recriação e, portanto, algo novo, como o que foi perdido no Éden.
Por essa razão, Pedro afirma que, quando Jesus voltar, “os céus passarão com grande estrondo, e os elementos se desfarão pelo fogo.
Também a terra e as obras que nela existem desaparecerão” (2Pe
3:10). Tudo será destruído! Portanto, o que esperamos, e que faz
parte da promessa divina, são “novos céus e nova terra, nos quais
habita a justiça” (2Pe 3:13).
Vale a pena ressaltar, em vista do que foi dito previamente, que
a esperança da restauração futura não ocorrerá imediatamente por
ocasião da vinda de Jesus. Jesus virá, levará os redimidos ao Céu (1Ts
4:13-17) e destruirá nosso planeta (2Pe 3:10-13). A segunda vinda,
João nos diz, dá início ao que conhecemos como milênio, onde os
justos “serão sacerdotes de Deus e de Cristo e reinarão com ele os
mil anos” (Ap 20:6). Então, depois do milênio (Ap 20:1-15), o planeta
será recriado, e a promessa de um novo céu e uma nova terra será
cumprida (Ap 21:1-22:5).
As consequências do pecado sobre a Terra são inúmeras. Enquanto algumas partes do planeta são destruídas por enchentes, tornados e tsunamis, outras sofrem com secas e terremotos. A promessa de
um novo céu e uma nova terra nos incentiva a depositar nossa esperança na recriação futura. E, em particular, ela nos motiva a ansiar
pela vinda de Jesus em breve, a fim de iniciar a restauração de todas
as coisas (Atos 3:21).
Na recriação do planeta, e no contexto da destruição da antiga ordem, João vê que “o mar já não existia” (Ap 21:1). Considerando que o
firmamento, a terra e os oceanos foram criados por Deus (Gn 1:6-10),
é difícil pensar que o mar, que Deus qualifica como bom na criação
(Gn 1:10), desaparecerá. É provável, portanto, que essa imagem no
Apocalipse seja uma referência ao mar, ou abismo, de onde surgem
os poderes que procuram prejudicar o povo de Deus (Ap 9:1, 2; 11:7;
13:1; 17:8; 20:1, 3). Nesse sentido, a expressão “o mar já não existe”
tem a intenção de destacar que na nova terra o mal terá deixado de
existir; por isso, os justos poderão descansar em paz.
Por outro lado, o mar também pode funcionar como um símbolo de separação. A ilha de Patmos, local para onde João havia sido exilado (Ap 1:9), era um lugar rochoso cercado pelas águas do Mar
Egeu. Para ele, como pode ser para alguns de nós, o mar representava a cisão que existia entre ele e seus entes queridos. Assim, ao dizer que na nova Terra não haverá mar, João estava tentando enfatizar
que os redimidos nunca mais experimentarão o triste sentimento de
separação. Em outras palavras, a promessa divina é que nunca mais
diremos adeus.
Esse é um dos tantos “não mais” do Senhor no Apocalipse. O pecado trouxe separação, caos, destruição e conflitos. A promessa é que, em um dia, que não está muito longe, o “mar”, como um símbolo do
mal e da distância, deixará de existir.
E A DOR JÁ NÃO MAIS EXISTIRÁ (Ap 21:4, 5)
O pior adeus que vivemos hoje é aquele que dizemos quando alguém que amamos morre. Mesmo que tenhamos fé na promessa da ressurreição, ainda assim sofremos quando perdemos nossos pais,
filhos, cônjuges ou amigos e, principalmente, quando refletimos
que, no tempo que nos resta de vida, não poderemos desfrutar de
sua companhia.
Entretanto, a esperança é que Deus enxugue as lágrimas dos olhos
daqueles que habitarão na Nova Terra (Ap21:4), onde “já não existirá mais morte, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram” (Ap 21:4). João ouve essa promessa
viva do Céu (Ap 21:3), enfatizando, assim, que seu cumprimento é
certo. Vale a pena lembrar que a aflição, em todas as suas formas,
começou no Éden, após a queda (Gn 3:1-4:16). O plano original era
que a humanidade vivesse para sempre, não sofresse de doenças e
enfermidades nem tivesse uma vida miserável (Gn 1:26-29; 2:8-15).
Foi o pecado que ocasionou a ruína da humanidade. É por isso
que, depois de enumerar as ansiedades que você e eu experimenta-
mos no dia a dia, a voz que João ouve insiste, novamente, que essa
ordem de coisas deixará de existir (Ap 21:4). Isso nos lembra que
você e eu, como afirmam as Escrituras, seremos transformados em
um instante, em um abrir e fechar de olhos, e nossos corpos serão
revestidos de imortalidade (1 Cor 15:51-55). Em outras palavras, a
morte será destruída (1Co 15:54; Ap 20:14), e, consequentemente,
as lágrimas, o luto e a tristeza serão totalmente eliminados, para
nunca mais surgirem (Ap 20:4).
A vitória que os redimidos desfrutarão na nova Terra se dá pelo
triunfo de Jesus na cruz (1Co 15:56-57). Embora o avanço da ciência
médica nos últimos anos tenha sido, sem dúvida, benéfico para o ser
humano, não existe remédio que cure a doença da morte. É unicamente graças a Jesus, que derrotou Satanás no calvário, que um dia,
revestidos de imortalidade (1Co 15:54), estaremos para sempre com
o Senhor (1Ts 4:17).
O texto acima descreve a preocupação do Senhor com o sofrimento
humano; sofrimento que pode se manifestar ao contemplar a morte,
o choro e o luto (Ap 12:4). É apropriado observar que o cuidado divino com Seus filhos é mencionado pela primeira vez em Apocalipse
- Ali lemos que aquele que se assenta no trono estará presente para
protegê-los, e “jamais terão fome, nunca mais terão sede, não cairá sobre eles o sol, nem qualquer outro calor forte” (Ap 7:16). Além disso,
percebemos que Jesus os pastoreará, conduzindo-os a fontes de águas
vivas e “[…] Deus lhes enxugará dos olhos toda lágrima” (Ap 7:17).
Isso implica que a promessa do Senhor em Apocalipse inclui “outras” dores, e não apenas aquelas que sofremos por causa da morte. A única maneira de acabar com esses males é Deus recriar este
mundo, o que é claramente afirmado por Aquele que está sentado no
trono, que diz: “Eis que faço novas todas as coisas.” (Ap 21:5). Essa
esperança, cujas “palavras são fiéis e verdadeiras” (Ap 21:5), é a base
sobre a qual são construídos o novo céu e a nova Terra que João viu
(Ap 21:1), servindo de garantia e certeza de que Deus recriará “todas
as coisas” (Ap 21:5).
A recriação deste mundo, portanto, não afetará somente a natureza, mas também o ser humano, que nunca mais experimentará a
separação que a morte, que, como um inimigo cruel, irrompe no seio
das famílias. É fundamental recordar que essa promessa se soma ao
resto dos outros “não mais” pronunciados pelo Senhor no livro do
Apocalipse, convidando-nos a refletir que na nova Terra não haverá
mais separação, caos, fome, nem calor, frio ou morte.
E A MALDIÇÃO NÃO MAIS EXISTIRÁ (Ap 22:1-5)
João contempla a descida na nova Jerusalém (Ap 21:2, 9-10) e descreve em detalhes as belezas da cidade (Ap 21:12-25). A descrição que João faz do brilho, dos alicerces, materiais, muros e portas (Ap
21:11-21), não se compara com o fato de que ela não terá templo, pois
“o seu santuário é o Senhor, o Deus Todo-Poderoso, e o Cordeiro”
(Ap 21:22). Além disso, a cidade não “precisa do sol nem da lua para
lhe dar claridade, pois a glória de Deus a ilumina, e o Cordeiro é a
sua lâmpada” (Ap 21:23). Os redimidos, por fim, terão livre acesso,
uma vez que “seus portões jamais se fecharão de dia, pois nela não
haverá noite” (Ap 21:25).
João também viu um rio de água viva, brilhante como o cristal,
procedente do trono de Deus e do Cordeiro, o qual corria pelo meio
da cidade (Ap 22:1-2). Localizada em cada lado do rio, estava a árvore da vida, “que produz doze frutos, dando o seu fruto de mês em mês” (Ap 22:2). A última vez que um ser humano viu e pôde tocar
a árvore da vida foi no Éden, especificamente antes de Adão e Eva
desobedecerem (Gn 2:9; 3:22). Para evitar que o casal comesse da
árvore e vivesse para sempre, Deus os expulsou do Éden, e, desde
então, nosso contato com a árvore tem sido meramente teórico. Um
dia isso mudará. O Senhor promete que, uma vez que a Terra seja
recriada, aqueles que escolheram acreditar em Jesus e ser fiéis terão
o privilégio de entrar pelos portões da cidade e comer do fruto da
árvore da vida (Ap 22:14).
Ao final do relato, João menciona os dois últimos “não mais” do Senhor: Não haverá mais maldição (Ap 22:3), e não haverá mais noite (Ap 22:5). Vamos começar com o primeiro. A primeira a receber a
maldição do pecado foi a serpente (Gn 3:14), que foi o instrumento
usado por Satanás para enganar Eva (Gn 3:1-7). A segunda foi a terra,
que produziria espinhos e cardos, tornando o trabalho do homem
penoso e difícil (Gn 3:17-19). No entanto, a boa notícia é que a maldição do pecado será removida, e, com ela, o exílio que nos foi imposto
chegará ao fim. Os redimidos terão a oportunidade de estar perto do
trono de Deus e do Cordeiro, que estarão na cidade (Ap 22:3), e poderão ver a face do Senhor (Ap 22:3-4). Em outras palavras, o exílio terminou, de modo que a raça humana pode retornar ao verdadeiro
lar, aquele que foi originalmente construído para ela: o novo Éden.
O segundo “não mais” do Senhor é que na nova Jerusalém não
existirá “noite” (Ap 22:5). Essa característica da cidade, anunciada
em algumas cenas anteriores (Ap 21:23, 25), se deve ao fato de que
os redimidos “não precisarão de luz de lamparina, nem da luz do
sol, porque o Senhor Deus brilhará sobre eles” (Ap 22:5). O Senhor,
o Criador da luz e dos luzeiros celestes (Gn 1:3, 14-18), não precisa
delas ou de meios artificiais para iluminar a cidade. A presença de
Deus supera qualquer tipo de luz, e é sob a proteção dessa luz que
os redimidos reinarão com o Senhor para todo o sempre (Ap 22:5).
CONCLUSÃO
A restauração da humanidade é o único caminho que existe para
este mundo manchado e destruído pelo pecado. O Senhor virá e nos
promete que, depois do milênio, aquilo que perdemos no Éden será
restaurado. Não haverá mais caos e separação, e a maldição que o
pecado trouxe será completamente erradicada. Jesus venceu, e a justiça que Seu sacrifício concede a todos nós, que cremos e andamos com Ele, será o direito de comer do fruto da árvore da vida e entrar
“na cidade pelos portões” (Ap 22:14).
Embora a ciência tenha desenvolvido formas de prolongar a vida e existam propostas para acabar com as injustiças sociais, nenhuma delas se compara com o que Deus nos prometeu. Convido você a orar constantemente para que essa certeza nunca se apague em nosso coração, e assim um dia entremos na nova Jerusalém e vivamos
com o Senhor para sempre.
BIOGRAFIA DE CARLOS OLIVARES
Carlos Olivares é um pastor chileno que atualmente trabalha como professor de
Novo Testamento no Centro Universitário Adventista de São Paulo (UNASP-EC). Ele tem
doutorado em Teologia, e é autor e editor de vários artigos e livros. É casado com Karina,
com quem tem um filho chamado Martín.