PR. ALEJANDRO BULLÓN
“O texto para a mensagem de hoje está registrado no evangelho segundo São Lucas 22:14 a 24. Leiamos: “Chegada a hora, pôs-se Jesus à mesa, e com ele os apóstolos. E disse-lhes: Tenho desejado ansiosamente comer convosco esta Páscoa, antes do meu sofrimento. Pois vos digo que nunca mais a comerei, até que ela se cumpra no reino de Deus. E, tomando um cálice, havendo dado graças, disse: Recebei e reparti entre vós; pois vos digo que, de agora em diante, não mais beberei do fruto da videira, até que venha o reino de Deus. E, tomando um pão, tendo dado graças, o partiu e lhes deu, dizendo: Isto é o meu corpo oferecido por vós; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este é o cálice da nova aliança no meu sangue derramado em favor de vós.”
– Agora veja que coisa impressionante estas palavras de Jesus – “Todavia, a mão do traidor está comigo à mesa. Porque o Filho do Homem, na verdade, vai segundo o que está determinado, mas ai daquele por intermédio de quem ele está sendo traído! Então, começaram a indagar entre si sobre quem seria, dentre eles, o que estava para fazer isto. Suscitaram também entre si uma discussão sobre qual deles parecia ser o maior.”
A cena descrita pelo texto é uma reunião de amigos, aparentemente inocente e despretensiosa. Jesus e Seus discípulos participam de uma ceia. Qual é o mal disto? Mas por trás daquela inocente reunião de confraternização existe uma mistura de sentimentos e propósitos egoístas que revela o “monstro” que todos nós carregamos, sem saber.
Isso trás à minha mente dois gestos que na cultura de nossos dias são aceitos como símbolos de companheirismo mas que no passado eram gestos de suspeita e desconfiança na outra pessoa. Você sabe porque as pessoas se dão as mãos quando se cumprimentam? É um símbolo de amizade e carinho, não é? Talvez hoje sim, mas não foi sempre assim. O dar-se as mãos teve origem na Europa, na idade média. Os homens se davam as mãos (e as mulheres não o faziam), com o propósito de verificar que o outro estivesse desarmado.
E o famoso “tim tim”? Ou seja, o ato de brindar batendo os copos antes de tomar uma bebida? Bem, depois de verificar que o outro estava desarmado, os homens sentavam-se em torno da mesa, mas antes de comer, batiam os copos a fim de colocar um pouco de seu vinho no copo do outro para proteger-se de qualquer tentativa de envenenamento.
Assim são os seres humanos, até por trás dos gestos mais bonitos, escondemos propósitos escusos que, às vezes, escapam do nosso controle.
Pois bem, na noite em que Jesus foi preso, Ele reuniu os Seus discípulos para uma ceia de confraternização. Pode haver momento de mais calor humano, companheirismo e amor do que a hora da refeição? Quando você gosta de alguém, não fica feliz de tê-lo à mesa com você?
Imagine agora o quadro: O momento mais crítico da vida terrena de Cristo estava próximo, e o Mestre reúne Seus melhores amigos, esperando deles, talvez uma palavra de ânimo para conseguir enfrentar a morte. Mas existe algo errado nessa ceia. Todo mundo está em silêncio. Ninguém fala nada e de repente Jesus rompe o silêncio: “Um de vocês vai me trair”, disse o Mestre. Aquilo foi como uma bomba. Todos se entre olharam. Quem seria capaz de fazer algo semelhante? “…a mão do traidor está comigo à mesa.” Todos, ao mesmo tempo, retiraram as mãos da mesa. Quem seria capaz de trair o Senhor Jesus?
Você conhece a resposta!
De repente acontece algo estranho; o ritmo da conversa toma outro rumo. Os discípulos começam a discutir quem dentre eles seria o maior.
O Evangelista São Marcos relata esta discussão em algum lugar enquanto Jesus e Seus discípulos andavam pela estrada. Lucas, no entanto, coloca esta discussão ali na mesa, depois que Jesus anunciou que alguém dentre eles iria traí-Lo.
Imaginemos aquela discussão. Eles diziam: “Quando a campanha eleitoral tiver chegado ao fim e Jesus tiver sido eleito, o Messias, Rei deste mundo, quem será o maior?” Cada um respondia: “Eu!”, “eu”, “não, eu!””
Com essa triste cena, os discípulos estavam provando que apesar de serem os melhores amigos de Jesus, de terem vivido ao Seu lado, apesar de terem ouvido Seus ensinamentos e visto os Seus milagres, eles não tinham a mínima noção daquilo que Jesus ensinara.
Então Jesus, triste por ser mal compreendido, fala novamente um dos Seus ensinamentos básicos. Vamos ver a continuação do texto de hoje. Verso 25: “…Os reis dos povos dominam sobre eles… Mas vós não sois assim; pelo contrário, o maior entre vós seja como o menor; e aquele que dirige seja como o que serve.” (Lucas 22:25 e 26)
Veja você como são as coisas. Jesus está ali servindo aos Seus discípulos, humilhando-se até a morte na cruz, triste, precisando de uma palavra de ânimo e eles, por sua vez, discutindo sobre quem deveria ser o maior. O Mestre não acabava de predizer que um deles o trairia? Agora com está discussão tonta, todos eles estavam cumprindo a predição. Estavam provando que todos eles O tinham traído.
Pobre ser humano. Às vezes nem percebe, acha até que está fazendo o melhor, e no entanto, vive machucando as pessoas mais próximas e queridas. Talvez por isso, Jeremias declara: “Misterioso é o coração, e perverso, quem o compreenderá?”
Existe até gente que se diz Cristã e quer o melhor para a igreja de Deus e no entanto, vive semeando a discussão e discórdia. Como você explica isso? Os discípulos interpretaram mal a Jesus e torceram Sua verdade, mas apesar disso tudo, Jesus fez uma declaração surpreendente. Veja o verso 28: “Vós sois os que tendes permanecido comigo nas minhas tentações.” (Lucas 22:28)
Aqueles traidores? Será que esta declaração do Mestre não envolve ironia e sarcasmo? Se fosse assim, você não acha que Jesus estaria certo? Talvez, do ponto de vista humano, mas para Jesus você nunca pode ser objeto de ironia, porque você é a coisa mais importante deste mundo para Ele.
Jesus prometeu para aqueles traidores embrutecidos pelo orgulho, em Lucas 22, versos 29 e 30:
“Assim como meu Pai me confiou um reino, eu vo-lo confio, para que comais e bebais à minha mesa no meu reino; e vos assenteis em tronos para julgar as doze tribos de Israel.” (Lucas 22:29 e 30)
A seguir Jesus se voltou para Pedro e lhe afirmou: “Simão, Simão, eis que Satanás vos reclamou para vos peneirar como trigo!” (Lucas 22:31)
Então Pedro respondeu pretensiosamente com suas falsas promessas; verso 33: “…Senhor, estou pronto a ir contigo, tanto para a prisão como para a morte.” (Lucas 22:33)
Jesus olhou para Pedro com amor e lhe respondeu, verso 34: “Afirmo-te, Pedro, que, hoje, três vezes negarás que me conheces, antes que o galo cante.” (Lucas 22:34)
Depois de todo este quadro, Jesus e Seus discípulos partem rumo às trevas daquela quinta-feira à noite e quando os soldados apareceram para prender o Mestre, os discípulos desapareceram, enquanto Jesus foi levado para o sofrimento. Aqueles a quem Ele reuniu ao redor de Sua mesa, fugiram… Ah queridos, a distância entre o companheirismo e aconchego da mesa e a covarde fuga em meio à escuridão, é muito curta.
Você e eu conhecemos bem esta história. Estamos aqui alimentando-nos da Palavra de Deus e daqui a uma hora, meu amigo, você não tem sequer idéia do que pode estar fazendo. Sim, você e eu conhecemos bem esta história, a história da distância entre nossas declarações de amor por Cristo, na Igreja e as nossas verdadeiras ações ao longo da semana. Você e eu sabemos o que é fazer promessas na Igreja e depois chorar por não poder cumpri-las. Você e eu sabemos muito bem o que significa querer ser fiel a Jesus mas depois enfrentar-se com a solidão, as trevas. Você sabe qual é o preço que precisa pagar por seus princípios e como às vezes, covardemente, cede ao dizer: “Eu nunca O conheci.”
Mas a história não acaba aqui, felizmente! Eu desafio você a esquecer seus momentos de traição e lembrar a maravilhosa promessa que Jesus fez aos Seus discípulos, veja os versos 29 e 30, do capítulo 22 de Lucas: “Assim como o meu Pai me confiou um reino, eu vo-lo confio, para que comais e bebais à minha mesa no meu reino; e vos assentareis em tronos para julgar as doze tribos de Israel.” (Lucas 22:29 e 30)
Isso não é maravilhoso, considerando a fragilidade de nossa humanidade? Para vocês traidores embrutecidos, orgulhosos, incapazes de compreender a minha verdade, Eu darei o meu reino e os farei sentar em tronos.
Para você Pedro, que tenta fazer o bem e não consegue. Para vocês, todos vocês que nunca entenderam nada, vos darei o reino. Ah, meu amigo, eu nunca terei palavras para agradecer a Deus por Sua paciência comigo. Sabe, o pior do pecado é que ele destrói em você o desejo de voltar e acreditar na vida e nas oportunidades que Jesus quer oferecer, pois Deus nunca deixa de amar ou acreditar em você.
Constantemente vejo nas cruzadas evangelísticas, em diferentes países do mundo, gente chorando, sentada nos auditórios, ouvindo o convite divino para começar uma nova vida, mas essas pessoas não conseguem acreditar que Jesus possa perdoá-las e transformá-las. O pecado tem destruído completamente sua auto-imagem. Sentem-se lixo, acham que Deus é tão puro e Santo que nunca poderá estender a mão na direção de um pecador como eles. Mas a cena descrita na mensagem de hoje é a maior prova bíblica de que ninguém nesta vida, tem o direito de pensar que já caiu tão baixo ou que já foi tão longe que Jesus não possa recebê-lo de volta. Os discípulos o tinham traído e mesmo assim Jesus prometeu fazê-los herdeiros do Seu reino.
“Um de vocês há de me trair.” – disse Jesus – e quem não já O traiu alguma vez? E no entanto é com eles que o Mestre quer formar o Seu reino. Um reino de traidores? Graças a Deus que Sua promessa não está fundamentada naquilo que nós somos, mas naquilo que Ele é. Nós traímos o Seu amor. Mas Ele é fiel às Suas promessas.
Neste momento estamos aqui, bonzinhos, ou talvez, tentando descobrir quem traiu Jesus, mas se olharmos para dentro de nós, talvez fiquemos assustado com as trevas dos nossos próprios sentimentos.
Os discípulos nunca entenderam a Jesus. Isso é fácil de dizer, não é? Mas acontece que nós também não. E aqui está a grandeza de Seu amor, porque apesar do que somos, Ele nos aceita para poder transformar-nos.
ORAÇÃO
Oh! Pai querido, aqueles discípulos, na noite mais triste da vida de Jesus nesta terra O abandonaram, o negaram, o traíram. Hoje, quando abrimos a Bíblia, é fácil ler a histórias desses homens e dizer: como foram capazes de dizerem aquilo? Mas todo o dia, cada hora, nós estamos repetindo a mesma história em nossa própria experiência. Estamos Te traindo e continuamos machucando Teu coração.
Oh Pai! Neste momento queremos clamar pelo perdão, por tudo aquilo que fizemos em nossa vida que contradiz o Teu amor e as coisas maravilhosas que Tu queres operar em nós.
Dá-nos uma nova oportunidade. Se neste momento existe alguém que sente-se sem oportunidade, que está perdido, que se sente acabado para sempre, estende o Teu braço e traga-o, toca sua vida com amor, transforme-o e cure-o. Em nome de Jesus. Amém.