Sobre as falsas soluções na vida

SOBRE[VIVER] Thiarlles Boeker – Quartas de Poder


No dia 28 de novembro de 2016, uma tragédia aconteceu. O voo LaMia 2933, que levava atletas, equipe
técnica, alguns membros da diretoria do clube Chapecoense, além de jornalistas e outros tripulantes, caiu
bem próximo ao aeroporto de destino, na Colômbia.
Era madrugada no Brasil, e o país amanheceu sem palavras diante do ocorrido. Meses mais tarde, as primeiras impressões começavam a indicar o que depois seria
confirmado por relatórios. A aeronave caiu por falta de
combustível. Alguém arriscou, e uma pessoa ou mais
permitiram concessões. Regras foram quebradas, e um
preço muito alto foi pago.
Às vezes algo parece inocente, vantajoso, e pode até
dar certo por um tempo, mas um valor será cobrado
em dia e hora não marcados. Muitas tragédias não são
resultados de uma única decisão, e o retrospecto revela uma série de permissões constantes, que promovem uma atitude cada vez mais audaciosa. Diante de resultados positivos e tentativas de “sucesso” anteriores, o coração ganha confiança para ser cada vez mais transigente em arriscadas escolhas. Muitas vezes essa vida no limite só encontra um fim quando a mente anestesiada tromba com a catástrofe assoladora.
O texto inicial mostrou o povo de Deus no Egito recebendo a proposta de fazer concessões. Faraó percebeu que o desejo do povo em relação a adorar a Deus era firme.
Se não é possível evitar o desejo pela comunhão, a estratégia de domínio do inimigo pode seguir um caminho astutamente diferente. Pensando na proposta feita ao povo, em palavras claras e objetivas, percebe-se que o tom era o seguinte: “Você pode adorar a Deus, mas
faça isso no Egito. Você pode cultuar ao seu Senhor, mas não precisa abandonar esse lugar”. Precisamos conversar um pouco mais sobre isso.

  1. Por que estamos aqui?
    Era uma tarde de sábado, e Jonas, Vander e Tiago
    ouviram de suas mães que podiam “andar de bicicleta,
    jogar quarteto ou visitar o pomar da tia Luiza”. Depois
    de conversarem um pouco, indo em direção ao pomar,
    decidiram mudar a rota, acrescentando outra opção.
    Eles resolveram conhecer uma cachoeira que não ficava muito longe da casa da tia Luiza. A desculpa era a de apenas decorar o caminho para voltarem em outra
    oportunidade.
    O barulho era cada vez mais forte e, num piscar de
    olhos, os três já estavam dentro da água. Ao desbravar um lugar desafiador, Vander escorregou por causa do limo na pedra e, para não cair, segurou firmemente
    uma espécie de bambu bem fino. O resultado? Um corte profundo, cinco pontos e um grande castigo para os três.
    Por que às vezes desejamos justamente o que não
    está disponível? Todo o caos que conhecemos neste
    mundo entrou por um caminho que quase sempre se
    repete. Eva se afastou de Adão, foi para uma região de
    risco, deu espaço para um diálogo indevido e foi enganada pela serpente (Gn 3). Não olhe para o gênero ou mesmo para as ações específicas; foque no processo.
    Damos passos que alargam as opções, flertamos com
    as possibilidades e, consequentemente, caímos (Rm
    5:18 e 19).
    Como disse o sábio: “Pondere a vereda dos teus pés…” (Pv 4:26); em outras palavras, significa avaliar antes de dar os passos, porque alguns caminhos são de morte (Pv 14:12).
    Nossos primeiros pais foram induzidos ao pecado mediante a condescendência com o desejo de conhecimento que lhes fora vedado por Deus. Procurando
    adquirir esse conhecimento, perderam tudo quanto
    valia a pena possuir-se. Se Adão e Eva nunca houvessem tocado a árvore proibida, Deus lhes haveria
    comunicado conhecimento sobre o qual não haveria
    pousado qualquer maldição de pecado, conhecimento que lhes haveria trazido perpétua alegria. Tudo quanto eles obtiveram por dar ouvidos ao tentador
    foi o relacionarem-se com a ciência do pecado e seus
    resultados. Por sua desobediência, a humanidade foi
    afastada de Deus, e a Terra separada do Céu. — A Ciência do Bom Viver, p. 427
    Perdemos muito por algo que não pode e nunca poderá ser comparado com o perfeito de Deus. Casamentos, amizades, alegria, vida cristã, dentre outras coisas,
    estão sendo negociados por “conquistas” que, no desenrolar da história, já nos fizeram ou nos farão ver que não valeram a pena.
    A boa notícia aqui é que desde que houve a primeira concessão e, por consequência, toda a tristeza que conhecemos, tudo pode ser diferente, mediante Cristo
    Jesus (Rm 5:6 a 8).
  2. As muitas portas para se “adorar”
    Um pastor adventista entrou no shopping para comprar um presente para a esposa. Ele estava usando uma
    camisa do clube de desbravadores, e a atendente logo
    perguntou: “Você é pastor?”

    Bondosamente ele respondeu que sim, e ela o surpreendeu dizendo que a presença dele ali poderia significar uma resposta de Deus. Ela explicou que estava
    buscando uma igreja e, prontamente, ele a disse: “Então
    você encontrou!”
    Quando o pastor começou a falar sobre os horários
    de culto e a localização dos templos, ela fez mais uma
    pergunta: “Mas sua igreja é aquela que diz que não podemos fazer nada?” O pastor lhe disse que não, e que na igreja dele “quem manda é a Bíblia, e ela diz o que
    precisamos fazer”.
    A atendente sorriu e explicou “melhor” a pergunta,
    informando para o pastor que estava buscando uma
    igreja que se enquadrasse em sua rotina de vida.
    Por mais estranho, e talvez até cômico que pareça,
    esta atendente teve uma sinceridade que às vezes alguns não têm. Ela estava buscando algo que não mudasse a sua rotina e que não interferisse tanto em sua
    vida.
    Caim foi o precursor dos que almejam essa religião
    adaptada, o primeiro a construir outra possibilidade
    de adoração (Gn 4). Caim abriu uma nova porta para
    a adoração, adaptando os conceitos a suas atividades,
    modificando os elementos para favorecer seu contexto
    de vida.
    Caim tivera, como Abel, a oportunidade de saber e
    aceitar estas verdades. Não foi vítima de um intuito
    arbitrário. Um irmão não fora eleito para ser aceito
    por Deus, e o outro para ser rejeitado. Abel escolheu
    a fé e a obediência; Caim, a incredulidade e a rebeldia. Nisto consistia toda a questão. Caim e Abel representam duas classes que existirão no mundo até
    o final do tempo. Uma dessas classes se prevalece do
    sacrifício indicado para o pecado; a outra arrisca-se
    a confiar em seus próprios méritos; o sacrifício desta
    é destituído da virtude da mediação divina, e assim
    não é apto para levar o homem ao favor de Deus. —
    Patriarcas e Profetas, p. 41.
    Seja sincero. O que você está buscando? A Bíblia
    deve se ajustar às nossas realidades ou nós devemos
    nos ajustar às verdades bíblicas?
    O pensamento relativista aplicado em muitos conceitos da Palavra de Deus costuma indicar certa intenção ou favorecimento, uma espécie de explicação, que
    inutilmente aplacará a consciência dos que fazem concessões em favor de necessidades pessoais.
    Somos nós que precisamos nos alinhar à Palavra;
    então que essa seja a disposição de nosso coração.
  3. Sacrifício vivo
    Em uma daquelas conversas que você só tem com
    amigos, Silas disse para Antônio: “Tenho uma aflição no
    coração. Tudo em mim pede para fazer algo que fere
    os princípios da Palavra de Deus”. Na conversa que se
    seguiu ficou muito claro para Antônio quais eram os desafios do amigo, e eles decidiram orar juntos, não só naquele momento, mas ao longo de um tempo indefinido,
    enquanto entendessem ser necessário.
    Essa primeira conversa ocorreu em 2005 e até hoje,
    mesmo distantes geograficamente, eles mantêm o
    compromisso. Exatamente agora em 2022, a necessidade permanece, e em todas as oportunidades de diálogo Silas afirma para o amigo que permanece “fiel à vontade de Deus, vivendo um dia de cada vez na presença do Senhor”.
    Um dos textos mais significativos na Bíblia sobre a
    adoração pode ser visto nas palavras de apelo de Paulo,
    onde o apóstolo roga: “Que apresenteis o vosso corpo
    por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o
    vosso culto racional” (Rm 12:1).
    Este é, sem dúvidas, um dos convites mais profundos no que se refere à entrega de um adorador. Sacrificar nosso corpo em vida significa deixar de fazer o
    que talvez seja um desejo vibrante para fazer o que Ele
    quer. Aqui é proposta uma adoração com base na razão evidenciada nas escolhas, na disposição de não se conformar com este mundo, experimentando sempre a
    “boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12:2).
    Não devemos apegar-nos aos nossos próprios caminhos, nossos próprios planos, nossas próprias ideias; devemos ser transformados pela renovação de nossa
    mente, para que experimentemos “qual seja a boa,
    agradável e perfeita vontade de Deus”. Os pecados
    que nos assediam devem ser vencidos, e assim nossos maus hábitos. Disposições e sentimentos errados devem ser desarraigados, e pelo Espírito de Deus gerados santo temperamento e emoções. — Carta 57,
  4. Os hábitos maus, quando encontram oposição,
    oferecem a mais vigorosa resistência; mas se a luta é
    mantida com energia e perseverança, eles podem ser
    vencidos. — Testimonies for the Church 4:655 (1881).
    / Mente, Caráter e Personalidade, v. 2, p. 582
    O que é mais fácil, ser sacrifício morto ou vivo? Essa
    pode ser uma questão particular, mas para nos ajudar
    a pensar no assunto. A diferença está em quantas vezes
    teremos que dizer não para nós e sim para Jesus.
    No sacrifício morto, será apenas uma vez. Afinal,
    após a decisão, não haverá mais a vida. Muitos são os
    mártires que valorosamente amaram mais a Cristo do
    que a sua própria existência (Ap 12:11).

    Pensando agora em nós, os que estamos vivos, que
    ainda não fomos desafiados quanto à morte, como fica
    a dinâmica do sacrifício? Eis o nosso desafio: dizer sim
    para nosso Senhor todos os dias, em cada ocasião e circunstância, e sacrificar a nossa vontade em favor à do Criador.



Quando notarem que você decididamente quer entregar a vida para Deus, é possível que propostas perigosas surjam no caminho. Um convite a concessões,
através de releituras da Palavra, geralmente poluídas por uma relatividade que, em essência, é antes de tudo rebeldia.
Devemos dizer para o mundo que somos templos vivos do Senhor. Devemos informar todos os dias para
nossas vontades e desejos que, apesar disso, nossas escolhas subirão aos céus como cheiro suave a Deus.
Você e eu pertencemos a Ele, pois fomos comprados
pelo precioso sangue de Jesus. Então: “Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo” (1Co 6:20)