Quando abro meu e-mail, deparo-me com várias mensagens encaminhadas. Algumas,
no campo destinado ao assunto, têm palavras como “urgente” ou “importante”,
quase sempre precedida pelo “FW” – abreviação de forward, “encaminhar” em
inglês.
Quando resolvo abrir alguma, encontro um pps anexado. Faço o download do arquivo e sou surpreendido com lindas imagens – algumas paisagens, flores ou outras belezas inspiradoras – e um texto começa aparecer. Geralmente, são textos com mensagens sobre amizade.
Um deles, por exemplo, afirma que os amigos são como estradas – alguns são tortuosos, outros espaçosos, etc. O curioso é que, quase sempre, encerram defendendo que não importa a distância ou a ausência, amigos sempre continuarão sendo amigos.
Como assim? Não dá para ser amigo de alguém sem me relacionar com essa pessoa. Comecei a refletir sobre isso e constatei que arquivos com mensagens desse tipo demonstram que existe um problema na forma dos relacionamentos atuais que, baseados, por exemplo, em sites de relacionamentos, podem ser caracterizados como superficiais e descartáveis.
O texto do Evangelho de João, quando narra o primeiro milagre de Jesus, nos ensina algumas lições sobre relacionamentos.
E, ao terceiro dia, fizeram-se umas bodas em Caná da Galiléia; e estava ali a mãe de Jesus. E foi também convidado Jesus e os seus discípulos para as bodas. E, faltando vinho, a mãe de Jesus lhe disse: Não têm vinho. Disse-lhe Jesus: Mulher, que tenho eu contigo? Ainda não é chegada a minha hora. Sua mãe disse aos serventes: Fazei tudo quanto ele vos disser. E estavam ali postas seis talhas de pedra, para as purificações dos judeus, e em cada uma cabiam dois ou três almudes. Disse-lhes Jesus: Enchei de água essas talhas. E encheram-nas até em cima. E disse-lhes: Tirai agora, e levai ao mestre-sala. E levaram. E, logo que o mestre-sala provou a água feita vinho (não sabendo de onde viera, se bem que o sabiam os serventes que tinham tirado a água), chamou o mestre-sala ao esposo. E disse-lhe: Todo o homem põe primeiro o vinho bom e, quando já têm bebido bem, então o inferior; mas tu guardaste até agora o bom vinho. Jesus principiou assim os seus sinais em Caná da Galiléia, e manifestou a sua glória; e os seus discípulos creram nele. Depois disto desceu a Cafarnaum, ele, e sua mãe, e seus irmãos, e seus discípulos; e ficaram ali não muitos dias. João 2:1-12.
Você já parou para pensar em como que Jesus foi parar em uma festa de casamento em Caná? Ora, porque Jesus tinha amigos. Ele sempre priorizou as pessoas.
Segundo os comentaristas bíblicos, o apóstolo Natanael era de Caná. Naquela época, quando havia um casamento, a cidade inteira era convidada. Podemos, com isso, pensar na possibilidade que Natanael, ao ser convidado pelos seus conterrâneos, levou Jesus com ele. Não há motivo para pensarmos que, naquela ocasião, Jesus estava acompanhado de todos os seus 12 discípulos, pois até então, ele só havia escolhido seis deles. Ao transformar a água em vinho, podemos retirar três lições do texto.
1. Jesus fez um milagre para abençoar várias pessoas.
Um dos problemas dos relacionamentos na atualidade é o individualismo resultante do consumismo capitalista. As pessoas não têm mais tempo para se relacionar porque precisam correr entre diversos trabalhos. Daí a ênfase que alguns púlpitos dão para os milagres individuais. Peça para Jesus um carro novo, uma boa casa ou a realização dos seus sonhos materiais, dizem. No entanto, mesmo que Jesus atenda ao seu pedido – afinal, Ele pode todas as coisas – não adianta nada você chegar ao topo da conquista financeira se não tiver pessoas especiais com quem compartilhar cada conquista alcançada. Assim como na multiplicação dos pães e peixes, o milagre de Jesus não atendia uma motivação egoísta, mas uma porção de pessoas juntas.
2. Jesus tem um presente para você.
As festas de casamento no contexto do Novo Testamento aconteciam da seguinte forma: O noivo, acompanhado de seus amigos, se dirigia até a casa da noiva. Esta, por sua vez, acompanhada de suas amigas, seguia junto com o noivo para a casa dele. Chegando lá, homens e mulheres ficavam separados e passavam a noite toda festejando. No dia seguinte, ao entardecer, todos se juntavam para o banquete. Nesse momento, os presentes eram entregues. E foi nesse momento que o vinho acabou. Ao perceber isso, Maria acionou Jesus. O milagre ficou sendo o presente dele para os noivos. Permita-me destacar três características do presente de Jesus.
2.1. Fundamental. Ao transformar a água em vinho, Jesus providenciou algo essencial para manter a alegria daquela festa de casamento. O vinho, na Bíblia, simboliza justamente isso e devemos nos lembrar que naquela época, não existiam muitas outras opções. Não se trata de analogia, mas da mesma forma como aconteceu com o vinho, os relacionamentos saudáveis, tão fundamentais na vida de uma pessoa, têm se esgotado atualmente.
2.2. Suficiente. Temos a tendência de imaginar que o vinho acabou no final da festa. Porém, naquela época, as bodas duravam cerca de sete dias. Ao transformar as seis talhas de água em vinho, Jesus proveu o necessário para todos os dias restantes – quem sabe uma por dia?
2.3. Delicioso. Depois de provar, o mestre sala afirmou que era o “bom vinho”.
Durante uma festa de casamento, vários cânticos eram entoados. Alguns deles
estão na nossa Bíblia. Fico imaginando aquelas pessoas cantando músicas como a
que aparece em Cantares 7:6 a 9. Confira o texto.
Em João 14:12, disse Jesus: “Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê
em mim também fará as obras que eu faço, e as fará maiores do que estas, porque
eu vou para meu Pai.” Como podemos fazer obras maiores que as de Jesus? Através
da Igreja. Neste caso, diante de um mundo onde impera o individualismo e a
solidão, é justamente a Igreja que pode e deve oferecer relacionamentos que
tenham também estas três características: fundamentais, suficientes e
deliciosos.
3. Você, portanto, precisa dar uma resposta. Tendo acabado o vinho, Jesus não providenciou mais automaticamente. Somente quando Ele foi acionado por Maria. E quando Ele foi acionado, Ele fez algumas exigências e, para receberem o presente, precisou ser obedecido. São elas:
3.1. Jesus pede algo que está em suas mãos. Existe uma diferença entre o milagre sobrenatural e o que cabe a nós fazer. Se o homem podia encher as talhas de água, Jesus não faria isso. Mas, quando chego”mu a parte que o homem não podia fazer, Jesus operou o milagre. Para que a Igreja seja um lugar de relacionamentos fundamentais, suficientes e deliciosos, algumas responsabilidades dependem de mim. Por exemplo, às vezes, o que está atrapalhando um relacionamento é porque eu preciso decidir perdoar alguém. A decisão de perdoar é minha, mas o milagre que precisa acontecer no meu coração é de Deus.
3.2. Jesus pede algo difícil. Encher tantas talhas de água não era algo fácil. Carregar um tanque de água é pesado. Jesus disse que quem quisesse segui-lo, deveria negar-se a si mesmo e tomar a sua cruz. Para fazer da Igreja um lugar de relacionamentos saudáveis, terei que tomar decisões contra meu ego, meu conforto e meus interesses.
3.3. Jesus pede algo simples. Ele disse apenas para que enchessem aquelas vasilhas de água. A Bíblia está repleta de mensagens simples – mas difíceis – de serem executadas: não mentir, não defraudar, não perder a paciência, entre outras.
Conclusão: Jesus oferece um milagre: transformar uma vida que, como a água,
está sem sabor, em uma vida colorida como o vermelho do vinho. Minha oração é
que a Igreja, como aqueles serventes, decidam obedecer as ordens de Jesus de
forma que, contra os relacionamentos superficiais e descartáveis do mundo, a
Igreja seja o lugar de construção de relacionamentos saudáveis que sejam
suficientes, fundamentais e deliciosos.
Carinhosamente,
João Oliveira Ramos Neto