Quando eu era menininho, eu me assentava e chorava, sempre que meu irmãozinho um bolo maior ganhava.
Meu pai costumava citar esse verso para meu irmão e para mim nas ocasiões em que precisávamos ouvi-lo!
Uma vez um bondoso membro da igreja deu um pacote de caramelos de Natal para o meu irmão e outro para mim, daqueles que ficam na boca por horas. Meus pais ficaram logo preocupados. Eles não queriam que estragássemos os dentes e o estômago. Assim, estabeleceram uma regra: somente um pedaço de caramelo por vez – e isso na hora da refeição. Nenhum caramelo entre as refeições.
Bem, aquilo era demais para um menino. Assim, eu peguei meu pacote de caramelos entre as refeições. Meu pai descobriu isso e rapidamente destruiu meu pacote de caramelo. E nesse momento eu me tornei tão preocupado com a saúde do meu irmão que joguei o pacote dele no sanitário!
Por que fazemos esse tipo de coisa? Por que tentamos tanto nos manter na frente um do outro, quer na extrema manifestação de guerra, quer numa brincadeira inocente? O que faz o futebol e outros esportes – uma diversão nacional? Por que competimos tanto em torno da questão, quem vai ganhar, quem vai ser o campeão, quem vai ser o primeiro?
Tudo isso começou com o pecado, não é verdade? Isso tudo começou quando Lúcifer decidiu que queria ser o maior. Isto parece estar integrado em nossa própria natureza. Mesmo os discípulos de Jesus incorreram várias vezes nessa tendência de querer ser o maior. Examinando a experiência deles, encontramos um belo exemplo de como Jesus tratava os pecadores conscientes.
É possível que os santos pequem? Como Jesus trata os santos que pecam? E possível pecar e saber que você está pecando e continuar fazendo o que você está fazendo errado e ainda ser um cristão? Eu sugeriria que esta é a própria questão prática, e essa é uma questão que tem uma resposta tão excitante que eu dificilmente consigo esperar para apresentá-la! Mas vamos tentar construir o nosso caso, ao notarmos nas Escrituras como Jesus tratava esse tipo de pessoa.
“Tendo eles partido para Cafarnaum, estando Ele em casa, interrogou os discípulos: De que é que discorríeis pelo caminho?
“Mas eles guardaram silêncio: porque pelo caminho haviam discutido entre si qual era o maior.” S. Marcos 9:33 e 34.
Havia chegado o tempo de Jesus voltar o rosto para Jerusalém. Os discípulos estavam certos de que o tempo havia chegado para Ele estabelecer Seu reino – Seu reino terrestre. E eles tinham negócios incompletos, dos quais precisavam cuidar. O negócio incompleto deles era decidir quem seria o presidente da classe, quem seria o primeiro ministro, quem seria o maior do reino.
Os discípulos continuaram sua discussão ao longo do caminho para Jerusalém, cuidando em resolver tais problemas. Porém, eles sabiam que o que estavam fazendo era errado, porque foram ficando para trás de Jesus. Na verdade, quando Jesus alcançou os limites da cidade de Cafarnaum Seus discípulos estavam tão distantes que Ele não pôde nem mesmo ouvir o que estavam dizendo. Isto é quase engraçado. Esses discípulos haviam estado com Jesus por três anos. Eles haviam repetidamente declarado sua fé nEle, que Ele era o Filho de Deus. Entretanto aqui, você os vê tentando falar baixinho para que Deus não pudesse ouvi-los!
Isso nos ensina alguma coisa muito interessante sobre o pecado. E difícil pecar na presença de Jesus. Você já descobriu isso? Até mesmo as pessoas mais fracas acham difícil pecar na presença de alguém que elas amam e respeitam. E de alguma maneira, temos que sentir que estamos longe de Deus, longe de Jesus, para continuarmos pecando.
Mas os discípulos chegam a Cafarnaum e vão com Jesus para a casa onde permaneceriam. Quando Jesus encontrou uma ocasião oportuna, perguntou: “Sobre o que estavam vocês conversando lá atrás na estrada?”
Os discípulos começaram a chutar o chão. Eles começaram a agitar-se. E não responderam. A Bíblia diz: “E eles guardaram silêncio.” Essa era uma boa hora para guardarem silêncio! Quando meus pais me perguntaram o que aconteceu com o pacote de caramelos do meu irmão, eu guardei silêncio!
Mas Jesus continuou a pressionar nesse ponto, e finalmente um dos discípulos disse: “Bem, hum, sabe… – nós estávamos questionando quem será o maior no reino.”
Agora, a vida de Jesus era uma vida de humildade. Ele havia se esvaziado e feito de Si mesmo de nenhuma reputação, de acordo com Filipenses 2.
Ele, que havia recebido a homenagem e a adoração de todas as hostes celestiais, viera para nascer numa manjedoura. Ele, que havia sido rico, tornou-Se pobre para que nós, através de Sua pobreza, pudéssemos nos tornar ricos. Outra vez e novamente Ele havia tentado apresentar esse ponto através dos discípulos, de que a real grandeza está baseada na humildade. E eles não haviam captado a mensagem.
Nesse ponto parece que Jesus poderia ter dito: “Saiam do Meu lado, seus doze miseráveis. Dá-Me outros doze para começar outra vez.”
Mas, em vez disso, Ele Se assentou com eles e disse: “Se alguém quer ser o primeiro, será o último e servo de todos.”
”Trazendo uma criança, colocou-a no meio deles e, tomando-a nos braços, disse-lhes:
“Qualquer que receber uma criança, tal como esta, em Meu nome, a Mim Me recebe; e qualquer que a Mim Me receber, não recebe a Mim, mas ao que Me enviou.” S. Marcos 9:35-37.
Jesus estava sempre usando crianças para mostrar com que o reino do Céu é realmente semelhante.
Jesus era bondoso com Seus discípulos. Ele não os condenou. Continuou pacientemente tentando ensinar-lhes as lições que eles tanto precisavam aprender. Além de tudo, Ele continuou a caminhar com eles, a partilhar com eles. Continuou a trabalhar com eles, a viajar com eles, a confiar-lhes Seu trabalho e Sua missão.
Dessa lição da Escritura vemos que os discípulos eram culpados do pecado. Que pecado? O pecado do orgulho. Oh, dizemos, todos têm um pouquinho de orgulho, é nisto que nosso mundo está baseado. Isto é o que torna interessante o jogo da vida! E a santificação é obra de uma vida toda. Talvez, antes de morrer, venceremos esse pequeno problema.
Mas se você estudar isso, descobrirá que o orgulho é um dos piores pecados aos olhos de Deus. O orgulho é um dos pecados mais ofensivos a Deus, porque ele é tão contrário a Sua própria natureza. E o orgulho foi o pecado que começou toda essa tragédia.
Assim, o pecado do qual os discípulos eram culpados, não era apenas pecado, ele era um mau pecado. E eles sabiam que isso estava errado, e sabiam o que estavam fazendo, mas continuaram fazendo. Eles continuaram fazendo isso o tempo todo, enquanto caminhavam com Jesus. Na verdade, eles ainda estavam nisso na noite da Última Ceia no cenáculo, logo antes da crucifixão. Isso se qualifica na minha definição como pecado consciente, pecado contínuo, pecado habitual, pecado acariciado, pecado persistente.
A Escritura nos ensina como Jesus trata os pecadores constantes – que sabem que estão pecando e continuam pecando.
Alguém tem dito que o problema com esses discípulos é que eles não eram convertidos. Mas eles tinham sido enviados para expulsar demônios, limpar leprosos e ressuscitar os mortos. Pessoas não convertidas fazem isto?
Esses eram aqueles a quem Jesus disse – quando eles voltaram da missão com os setenta – “Alegrai-vos … porque os vossos nomes estão escritos nos Céus”. Ver S. Lucas 10:20. Mas S. João 3:3 diz que você não pode nem mesmo ver o reino do Céu se não tiver nascido de novo. Assim, eu não posso aceitar a remissa de que esses discípulos não estavam convertidos. E daí?
Como Jesus trata discípulos culpados de pecados conscientes? Ele fez Sua clássica declaração em S. Mateus 12:31: “Todo pecado. . . será perdoado aos homens.” Não é isso uma boa nova? E se todo tipo de pecado for perdoado, então isso teria que incluir pecado consciente, pecado persistente, pecado habitual. Isso incluiria perdão dos piores pecados tais como orgulho, bem como outros pecados tais como assassinato e adultério, e tudo que você queira mencionar. Jesus ofereceu perdão para todos os pecados e continuou a caminhar com os discípulos ao eles aprenderem o que Ele estava tentando ensinar-lhes.
Poderia ser fácil concluir que talvez pecar, afinal, não seja tão mau. Talvez pecar não seja grande coisa. Talvez obediência e vitória não sejam necessárias ou nem mesmo possíveis. Mas precisamos relembrar o que Jesus disse a Maria quando ela foi arrastada até Ele. Ele disse: “Eu não te condeno.” Isto é uma boa nova.
Mas Ele não parou aí. O que mais disse Ele? Ele disse: “Vai e não peques mais.” Isso é igualmente uma boa nova.
Deus ama os pecadores, isto é verdade. Mas Ele odeia o pecado. Ele provê poder para vencer o pecado. Ele provê poder para obedecer – poder para ser vitorioso. Ele também tem provido perdão para cristãos em crescimento, fracos, imaturos – e Ele continua a caminhar com eles.
O poder está disponível para ir e não pecar mais. Mas é a aceitação e amor de Jesus, o contínuo relacionamento com Ele, que nos traz esse poder de ir e não pecar mais. Essa é a razão por que é absolutamente necessário que qualquer pecador constante seja apto a contar com a aceitável presença de Jesus enquanto ainda está aprendendo como experimentar o poder que está disponível.
A única pessoa que cresce além de seus erros é aquela que sabe que é amada e aceita mesmo enquanto erra. Isso dá permissão para pecar? Não! É exatamente esse relacionamento com Jesus que leva à vitória.
Com base nessa história da Bíblia, podemos concluir que é possível ter ao mesmo tempo na vida um relacionamento contínuo com Deus e
cometer pecados conscientes. Os discípulos tinham contínuo relacionamento com Deus e cometiam pecados conscientes ao mesmo tempo – certo ou errado?
Mas embora seja possível ter ao mesmo tempo um relacionamento com Deus e pecados conscientes, mais cedo ou mais tarde um dos dois deixará de ocorrer. Judas era esperto. Ele compreendia esse princípio. Ele decidiu que não queria que seu pecado deixasse de ocorrer. Assim deliberadamente, rompeu seu relacionamento com Jesus em favor do pecado.
Agora chegamos ao ponto real do pecado acariciado, pecado aparatoso, pecado consciente. Judas sabia o que fazer para vencer o pecado e escolheu deliberadamente não fazê-lo. E quando alguém rompe um relacionamento com Jesus a favor de continuar no pecado, está em terreno excessivamente perigoso. Talvez você tenha encontrado pessoas que não queriam ser muito religiosas, porque tinham medo de que seu estilo de vida mudasse. Esse era o caso de Judas.
Os demais discípulos, porém, queriam continuar com Jesus, apesar de tudo. João, por exemplo. Ele era o discípulo que estava sempre ali. Nada podia tirá-lo do lado de Jesus. Ainda assim, ele gastou três anos para aprender como aceitar a vitória que Jesus tinha a oferecer. E a despeito de seus problemas, que eram plenamente tão maus quanto os de Judas, ele continuou a caminhar com Jesus.
Os anos passam. João é o último que resta – o último dos discípulos. Todos os demais haviam morrido como mártires. Talvez os amigos tenham vindo visitá-lo ali em Roma. Eles o ouviram dizer coisas como: “Amados, amemo-nos uns aos outros, porque o amor procede de Deus.” I S. João 4:7.
E eles dizem: “João, você mudou.”
João olha para eles e pergunta: “Quem, eu?”
Porque as pessoas que mudam são as últimas a saberem disso – as últimas a anunciarem isso. Mas, a graça de Deus tinha feito sua obra em João. João tinha sido conhecido como um dos “Filhos do Trovão”, mas agora, ele diz: “Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que havemos de ser. Sabemos que, quando Ele Se manifestar, seremos semelhantes a Ele, porque havemos de vê-Lo como Ele é.” I S. João 3:2.
Por favor, meu amigo, posso relembrá-lo que se você continua a conhecer Jesus como seu amigo pessoal dia a dia – pela oração e pelo estudo de Sua Palavra – se nada tira você de Seu lado, você se unirá a João, o amado, experimentando uma transformação do caráter. Seja qual for o pecado com o qual você luta, ele se extinguirá.
Às vezes ficamos impacientes e tentamos cronometrar nosso crescimento. É melhor não fazermos isso. Essa tarefa cabe a Deus. É a obra do Espírito Santo. O princípio do crescimento cristão é primeiro a erva, depois a espiga e, por fim, o grão cheio na espiga. Isso toma tempo para desenvolver o fruto.
Mas o amor tem sua própria defesa construída contra a permissão para pecar. Quanto mais amamos, mais nos distanciamos de querer jogar “par ou ímpar” com a graça de Deus. E enquanto crescemos, enquanto aprendemos com os discípulos a amar e confiar plenamente nEle, quão gratos podemos ser pela mensagem de como Jesus tratava os pecadores conscientes.