Cuidados especiais nos primeiros anos de vida da criança são decisivos para um bom desenvolvimento até a fase adulta. Estes normalmente incluem atenção especial com os aspectos físico, emocional, social e cognitivo. A família, cujos fundamentos educacionais estão alicerçados em um modelo bíblico cristão, reconhece, no entanto, a necessidade de colocar em prática, igualmente, a formação do caráter dos filhos; “obra mais importante já confiada aos mortais” (WHITE, 2004). Essa formação deve ser exercida desde o berço, enquanto “sentados em casa, andando pelo caminho, ao deitarem e ao se levantarem” (Deuteronômio 11:19), buscando familiarizar os filhos com Deus e à Sua palavra de forma a habilitá-los para a vida eterna.
O escritor F. E. E. Burkhalter (1967) apresenta uma ideia de por que é fundamental priorizar a formação do caráter dos filhos durante seu período de maior desenvolvimento, ao afirmar o seguinte: “As crianças, juvenis e adolescentes são o único material dado por Deus, com o qual podemos fazer homens e mulheres.
São elas que ocuparão nossa cadeira no Senado e o nosso lugar no banco da Corte Suprema. Elas assumirão o governo das cidades, Estados e do País. Dirigirão presídios, igrejas, escolas, universidades, corporações e empresas”.
O autor diz, ainda, que “tudo o que fizermos será louvado ou condenado por elas; nossa reputação e futuro estão em suas mãos. Toda a nossa obra será delas e o destino da nação e da humanidade dependerá de nossas crianças. As crianças, juvenis e adolescentes de hoje serão os homens e mulheres de amanhã. Elas continuarão aquilo que começarmos. Ficarão exatamente no lugar que agora ocupamos. E, quando nos formos desta vida, nossas crianças cuidarão das coisas que julgamos importantes. Poderemos traçar mil planos a curto ou longo prazo, mas o modo como esses planos serão executados depende em grande parte do menino e da menina que hoje educamos”. (BURKHALTER,1967, p. 11 a 13).
Percebe-se que, para alcançar uma educação com propósitos elevados, é preciso ir além de uma educação normal, não podendo ainda, terceirizá-la ou negligenciá-la. Ademais, os pais de hoje constituem a primeira geração que testemunha as mais rápidas e incomuns mudanças de paradigmas na sociedade. Por vezes sentem-se perdidos, sem reação, tendo que reagir e indagar: O que fazer? Que atitudes tomar?
Uma contra reação proposital e na mesma velocidade das mudanças que vem ocorrendo provavelmente seja a melhor fórmula para a formação de um caráter nobre e aprovado por Deus nos filhos. Para tanto, é preciso:
a. Orar e depender de Deus intensamente – a família vive tempos difíceis, é urgente a necessidade de estabelecer prioridades quanto à oração diária, leitura da Bíblia, Lição da Escola Sabatina e Espírito de Profecia;
b. Tornar a formação do caráter dos filhos, uma “missão”– Outros projetos podem esperar, a formação caráter deve ter prioridade e não ser permissiva. (FOWLER, 1977; White, 2013; 2014);
c. Ser o primeiro e principal discipulador dos filhos – Há que instruir os filhos a andar com Deus e ter uma amizade sincera e individual com Ele (PHILLIPS, 2011; WHITE, 2007);
d. Ser um modelo – Os filhos observam e copiam a forma como os pais vivem, enfrentam desafios, solucionam problemas, se divertem, negociam e como interagem com Deus. Quanto mais coerência houver entre a ação e o discurso, maior seu impacto;
e. Ter conhecimento de causa – uma família cristã deve estar bem instruída quanto às fases do desenvolvimento dos filhos. Conhecer cada uma é essencial a fim de orientar corretamente e fazer a diferença entre outras teorias e tendências por vezes errôneas e impostas por pessoas mal intencionadas.
Os pais precisam ter claro que crianças de determinada faixa etária apresentam características peculiares e normalmente similares. Aos cinco anos, por exemplo, desenvolvem-se muito fisicamente, crescem em torno de 15 centímetros por ano, ganham em torno de quatro quilos, vestem-se sozinhas, amarram os sapatos, escovam os dentes e etc. Socialmente, começam se relacionar com pessoas fora de casa e, espiritualmente aceitam o fato de Deus como Criador e Pai. No desenvolvimento sexual, essas crianças costumam querem saber de onde vieram, questionam sobre bebês e se interessam pela diferença entre meninos e meninas. A unidade familiar nas suas mais diversas esferas de ação, constitui o principal canal para passar tais informações, às quais devem progredir gradualmente diante de devidas orientações e dúvidas. (PAPALIA; OLDS; FELDMAN, 2010).
Educar os filhos para o conhecimento da vontade de Deus, não é uma missão fácil. É preciso lembrar, no entanto, que, a despeito das dificuldades, os pais também têm um grande “Pai” para o qual tudo é possível, um “Pai” que os toma pela mão direta e diz: “não temas, (meu filho) que eu te ajudo” (Isaías 41:13).
BURKHALTER, F. E. Como ganhar os adolescentes. Rio de Janeiro: Casa Publicadora Batista, 1967. PHILLIPS, Keith. A Formação de um Discípulo. 2a edição. São Paulo: Vida, 2011. FOWLER, John M. The Concept of Character Development in the Writings of Ellen G. White. Andrews University, Berrien Springs, MI, United States, 1977.
PAPALIA, Diane. E; OLDS, Sally Wendrikos; FELDMAN, Ruth Duskin. Desenvolvimento humano. 10 ed. Porto Alegre: AMGH, 2010. WHITE, ELLEN, G. Orientação da criança. Casa Publicadora Brasileira, Tatuí, SP, 2013. . Fundamentos da Educação Cristã. Casa Publicadora Brasileira, Tatuí, SP, 2007. . O Lar Adventista. Casa Publicadora Brasileira, Tatuí, SP, 2014.
Janete Tonete Suárez é mestre em Psicologia e doutoranda em Psicologia.