Não existe forma fácil de abordar temas polêmicos. Ou você agradará um grupo, desagradando a outro, ou desagradará aos dois, caso tente ficar se equilibrando sobre o muro da neutralidade. Neste contexto de missão, “professorar” tem se tornado cada vez mais difícil, principalmente quando um tema desta complexidade, adentra as portas da escola. Toda escola existe em um contexto, em um meio social, em uma comunidade específica. Sob esta ótica, é de se esperar que hábitos, escolhas, modelos e práticas socialmente presentes, ocorram no ambiente escolar, afetem sua dinâmica e modulem suas discussões. Ou seja, se algo afeta a sociedade, afetará a escola. Se algo acontece na sociedade, acontecerá também na escola. O advento do tema “gênero” na sociedade atual se aproxima aceleradamente do ambiente escolar em todos os níveis. Ao tentar responder como o tema gênero e suas consequentes ideologias afetam a escola formal, e o que inferem seus adeptos, indico algumas das propostas ou teses atualmente defendidas: por Moisés Sanches
- Em primeiro lugar, muda-se a concepção de sexualidade biológica para sexualidade psicológica ou social. Impõe-se que a mente é quem determina a sexualidade e não o corpo.
- Ao fazer isso, cria-se artificialmente um conflito entre mente e corpo, colocando a ciência e as evidências da biogenética em segundo plano, e as hipóteses e ideologias em primeiro plano.
- Ao promover a cisão entre a mente e o corpo, propõe-se dogmaticamente que o desajuste esteja no corpo, e não na mente, e em consequência, que tal desajuste deva ser corrigido no corpo, e não na mente.
- De forma arbitral, acusa-se de preconceituoso qualquer profissional que tentar corrigir o desajuste mente-corpo, atuando pela reorientação da mente, taxando-o de um retrógrado, conservador ou até contraventor.
- Propõe-se uma revisão do conceito científico de sexualidade biológica, migrando a abordagem para sexualidade psicológica nos currículos escolares.
O ADVENTO DO TEMA “GÊNERO” NA SOCIEDADE ATUAL SE APROXIMA ACELERADAMENTE DO AMBIENTE ESCOLAR EM TODOS OS NÍVEIS.
6. Propõe-se que, sendo a sexualidade uma questão psicológica, não se deva ensinar às crianças que meninos sejam meninos e meninas sejam meninas, mas que apenas têm um corpo com determinados órgãos, e que a identidade feminina ou masculina será um processo de construção e experiência ao longo da vida. E vão além, propondo que a escola deva estimular formas variadas de relações de maneira a proporcionar experiências aos alunos para que descubram sua “identidade de gênero”.
7. Infere-se que a escola seja o campo de instrução que deva instruir crianças e adolescentes sobre todas as opções existentes para reorientar sua identidade de gênero caso assim o desejem.
8. Propõe-se que o processo de reprodução seja apenas uma casualidade da natureza, e que, não implica nenhuma imposição de relações sociais ou constituições formais. Procriar e ter filhos é um processo não restrito à família convencional, e deve ser, portanto, algo livre de qualquer contexto biologicamente determinado.
9. A escola deve ser um ambiente progressista e que auxilie a sociedade a mudar a concepção sexista e tradicional de família pai-mãe-filhos, entendendo, aceitando e promovendo toda e qualquer manifestação de afetuosidade e relacionamento que quaisquer pessoas queiram definir para si.
10. Define-se que a escola seja um ambiente neutro, onde se produza ciência, e que tenha por obrigação guiar mentes jovens a um processo de pensamento autônomo e independente, desvinculado das concepções tradicionais de seus antecessores (pais, família, comunidade), pois presume-se que as novas gerações sejam mais evoluídas que as anteriores. Supõe-se que a imposição de restrições conservadoras e “tradições” familiares ou sociais, atrase a difusão e progressão do conhecimento acadêmico.
11. Afirma-se que a escola deva desenvolver a tolerância e a valorização da diversidade e, portanto, deva estimular que novas concepções e manifestações se proliferem, pois isso incentiva a ciência, a cultura, a criatividade e a evolução da sociedade.
12. Arbitra-se que em nome da tolerância e inclusão, bem como da autonomia e liberdade de construção identitária, crianças e adolescentes devam ser tratadas pelo nome e/ou pronome que desejem ser chamados, independentemente da sexualidade biológica.
13. Propõe-se que os livros e materiais escolares sejam revisados, incluindo novas concepções de família, relacionamento e expressão de afetuosidade, amor e erotismo.
14. Arbitra-se que, como forma de acelerar o processo de desenvolvimento social, crianças devam ser obrigadas à ir a escola em idades cada vez menores, ser educadas em currículos oficiais produzidos pelo Estado, e que se restrinja, se possível, qualquer tentativa de educação fora da escola, ou em escolas com currículos não formatados aos moldes do estado(como home schooling, escolas confessionais ou escolas privadas).
Estes são apenas alguns exemplos de dificuldades que precisam ser enfrentadas pelo sistema formal de ensino. Dentre as várias perguntas que persistem como reflexão, talvez eu deva elencar algumas:
• Quem concedeu aos defensores da ideia de gênero o poder de definir que o corpo é que carrega o desajuste do “gênero” e não a mente?
• Porque defender a opção de gênero não biológico é politicamente correto e aceitável, e defender a concepção de família biologicamente evidente não tem o mesmo direito?
• Por que grupos que defendem direitos iguais, só o fazem quando o tema lhes é favorável ou atende seus desejos?
Quando Deus disse “façamos o homem a nossa imagem, conforme a nossa semelhança” e, em seguida acrescentou “homem e mulher os criou”quer me parecer que não fora coincidência que, em seguida, tenha vindo uma expressão de benção, e como produto da benção, os filhos. É na família que aprendemos de maneira mais ampla e clara quem é Deus.
Uma família desajustada em qualquer de seus pressupostos afetará diretamente a compreensão e a imagem que os filhos, e consequentemente as próximas gerações, terão de Deus. Neste contexto, a quem interessa a dissolução da família e a consequente incompreensão de Deus? O que você está fazendo em sua família para instruir e proteger seus filhos? Pense nisso.
Moisés Sanchez é teólogo e educador, doutor em Atividade Motora Adaptada e Saúde pela Unicamp. Atualmente, além de ser professor universitário, compõe a equipe que gerencia a Educação Adventista no Estado de São Paulo.