Um novo começo

5 O DIA | QUARTA-FEIRA – SEMANA SANTA


Recomeçar exige coragem. O começo carrega em si uma empolgação pelo que
vai acontecer, tem o brilho e o frescor da manhã. Já o recomeço acontece a partir
de algo que se perdeu. Exige acreditar de novo, se levantar do chão quando já não
é tão cedo.

É preciso buscar forças para seguir em frente
de novo. Você está tentando recomeçar em alguma área de sua vida?

Talvez precise recomeçar diante do fim de um relacionamento, de uma mudança de carreira,

da luta pela sobrevivência, de uma queda espiritual, da perda de um ente querido,
de um diagnóstico médico. Todos precisamos recomeçar espiritualmente.
Recomeçar exige coragem. O termo “coragem” vem do latim coraticum, que é
a junção de duas palavras: cor, que nesse caso significa “coração”, e actium, “ação”.
É a ação que vem a partir do coração, a capacidade de enfrentar um desafio externo
com uma motivação interna. E isso fica mais belo quando Deus trabalha dentro de
nós para enfrentarmos os desafios. Maravilhoso, não é? Coragem é a habilidade de
enfrentar os medos, o perigo, a incerteza. É ter audácia, intrepidez, fé e confiança.
Na saga do grande conflito entre o bem e o mal, o pecado infelizmente encontrou lugar neste mundo e em nosso coração.

Surgiram as doenças, a morte, a malícia e as guerras. Até mesmo a
história do povo de Deus foi marcada por muitas quedas e decepções. Mas Deus
não desistiu de nós. Ele não perdeu a paciência ao longo do processo, assim como
Ele não desiste de você e de mim hoje.
Deus trouxe um novo começo com Jesus Cristo.

A contagem dos anos voltou ao começo.
Foi uma nova chance ao mundo. Hoje vamos refletir sobre a encarnação de Cristo,
Sua primeira vinda ao mundo, que definitivamente virou o jogo do grande conflito. Vamos refletir sobre o Bebê na manjedoura.

I. A manjedoura revelou quem Deus é (Leia Jo 1:1-3; Lc 2:7)
Nos tempos bíblicos, a manjedoura era o cocho, um tronco oco onde os animais
bebiam água ou onde se põe a forragem para alimentá-los. Ainda hoje, a manjedoura
é “um tabuleiro em que se põe comida para os animais nas estrebarias” (Dicionário
Aurélio – Século XIX). A Bíblia fala muito mais da cruz do que da manjedoura. Sim,
é a morte de Cristo na cruz que nos salva. Mas é importante lembrar que, sem a
manjedoura, não haveria cruz. Conhecemos a manjedoura dos presépios, das praças, teatros e filmes. Mas será que conhecemos a manjedoura de Cristo?
Pensar na manjedoura é algo extremamente desafiador, pois é uma história
simples e escassa em detalhes. Apenas Mateus e Lucas falam do nascimento de
Jesus, e a manjedoura só restou para Lucas. A segunda razão por que é difícil
falar da manjedoura é por ser uma cena infinitamente profunda sobre Deus por
um lado Se restringindo, mas por outro Se revelando em carne para nos salvar.
“A história de Belém é inesgotável” (Ellen G. White, O Desejado de Todas as
Nações, 2021, p. 29).


A manjedoura revela quem Deus é. O Senhor tem uma aparência gloriosa.
Alguns profetas tiveram visões sobre a aparência de Deus. João descreveu Jesus no
Céu com olhos como chamas de fogo, e o Seu rosto brilhava como o sol na sua força
(Ap 1:14-16). Depois dessa visão, o apóstolo caiu no chão, mas Jesus o acalmou
(v. 17). Deus Pai também foi visto em Sua aparência gloriosa, em Seu trono (Is 6).
O início do evangelho de João, conhecido como prólogo (ou introdução), tem
um foco teológico e apresenta a divindade de Jesus. Aponta não somente para
o futuro, o que Cristo iria fazer, mas para o passado, o que Ele fez e quem Ele é
(J. Martin C. Scott, “John”, em Eerdmans Commentary on the Bible, ed. James
D. G. Dunn e John W. Rogerson, 2003, p. 1162). Jesus é chamado de Verbo ou
Palavra de Deus (Jo 1:1), que “falou, e tudo se fez”, “ordenou, e tudo passou a existir” (Sl 33:9). “Sem Ele, nada do que foi feito se fez” (Jo 1:3). Por meio Dele, tudo
foi criado e continua existindo (Cl 1:13-17). Ele é “a expressão exata” do ser divino
e “sustenta todas as coisas pela Sua palavra poderosa” (Hb 11:1-3).
Em João 1:14, a Bíblia diz: “E o Verbo Se fez carne e habitou entre nós”. O termo
usado para “habitar” significa “habitar em uma tenda”, “acampar”. Ele também
ocorre no livro do Apocalipse, quando o apóstolo João falou que Deus vai morar
(fazer Sua tenda) entre Seu povo (Ap 21:3) e estender Seu tabernáculo sobre Seus
filhos em meio às perseguições (Ap 7:15), ou seja, cuidar deles.
João 1:14 é o ponto mais alto do prólogo (ou da introdução) desse evangelho.
Nesse verso, “a Palavra, o Agente da Criação, Se tornou criatura. Aquele que trouxe
o Universo à existência nasceu dentro do Universo como um ser humano” (Rodney
A. Whitacre, John, The IVP New Testament Commentary Series, 1999, v. 4, p. 58).
Como se diz em uma oração das igrejas cristãs orientais, “vemos os oradores
mais eloquentes sem voz, semelhantes a peixes, quando devem falar de Ti, ó Jesus
nosso Salvador. Pois está além do poder deles dizer como Tu és homem perfeito
e Deus imutável ao mesmo tempo” (Whitacre, John, p. 58).
Se em João 1:1 o apóstolo afirmou a divindade de Jesus, no verso 14 afirmou Sua
humanidade. “Cristo é divino no sentido absoluto e irrestrito da palavra; também é
humano no mesmo sentido, exceto pelo fato de que ‘não conheceu pecado’ (1Co 5:21)”
(Francis D. Nichol, ed., Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, 2013, v. 5, p. 993).
“Nele habita corporalmente toda a plenitude da Divindade” (Cl 2:9). Ele é 100% Deus
e 100% homem, nascido, mas sem origem. Ele não tem vida, Ele é vida (Jo 11:25; 14:6).
Jesus Se fez humano para estar perto de nós. Gostamos de estar perto de quem
amamos. Não é possível amar e não querer estar perto. Assim, por muito nos
amar, Jesus, em harmonia com o Pai e o Espírito, decidiu Se encarnar, humanizar,
para chegar perto de nós. Cristo é Emanuel, “Deus conosco” (Mt 1:23; Is 9:6).
Ao Se tornar humano, Jesus Se aproximou mais do que nunca de nós. Ele
veio conhecer nossas lutas e dores. Experimentou as necessidades pelas quais
passamos. Ao mesmo tempo, nos revelou a glória de Deus. Os apóstolos viram “a
Sua glória, glória como do unigênito do Pai” (Jo 1:14). E, como uma amostra de
quem Ele é, Jesus Se transfigurou diante de Pedro, Tiago e João (Lc 9:28-36). No
evangelho de João, “glória” também tem que ver com os milagres de Jesus, Seu
ministério e Sua paixão (Scott, “John”, p. 1162). Como Filho de Deus, manifestou
a honra, o brilho e o esplendor de Deus Pai.

Cristo disse: “Quem vê a Mim vê o Pai” (Jo 14:9). Falando assim ainda na condição humana, Ele nos ensinou a admirar e amar a Deus pelo que Ele é, não pelo
poder que tem. Isso também nos dá a condição de amá-Lo plenamente. Afinal,
só podemos amar alguém que conhecemos. Nossa relação com Deus não deve
ficar só entre pedir e agradecer, preces e milagres. Deve evoluir para um relacionamento vivo, numa caminhada com Deus, no abrir do coração como para um
amigo (Ellen G. White, Caminho a Cristo, 2020, p. 93).
Cristo é uma fonte inesgotável de boas-notícias, muitos evangelhos em um só.
Ao contemplá-Lo, lembramos que Deus é poderoso, mas também que é amoroso.
E Ele teve a coragem de enfrentar tudo por nós para nos dar um novo começo.

II. A manjedoura revela quem nós somos
A manjedoura e a encarnação não aconteceram apenas para render uma boa
foto nas “redes sociais” do Universo. Não foi golpe de marketing cósmico. Ela foi
autêntica: revelou a humildade divina, o coração de Deus. No entanto, a encarnação de Cristo também revela quem somos. Em primeiro lugar, mostra nossa
culpa. Foi por nossa culpa que Cristo teve que descer ao lamaçal do pecado. Foi
uma infinita humilhação para Jesus assumir nossa natureza humana. E Ele fez
isso porque erramos. Veio assumir nossa dívida impagável.
Ao mesmo tempo, a encarnação revela nossa condição carnal. Desejamos as
obras da carne, “imoralidade sexual, impureza, libertinagem, idolatria, feitiçarias,
inimizades, rixas, ciúmes, iras, discórdias, divisões, facções, invejas, bebedeiras,
orgias” (Gl 5:19-21). Assim, ao comparar nossas ações e nossos pensamentos
com a vida e os pensamentos de Cristo, ficamos constrangidos, envergonhados de nós mesmos (2Co 5:14). Sendo Rei, Ele Se agachava para brincar com
as crianças. Amava os pobres e os ricos, os doentes, as pessoas com deficiência,
os doutores, os pecadores e até mesmo os corruptos e odiosos publicanos. Não
Se exaltava nem humilhava os outros. Era manso e firme. Sua personalidade era
perfeita. Com Sua pureza, conseguia unir indivíduos dos grupos mais diferentes
em torno da missão de salvar pessoas para o reino de Deus.
Muito além de revelar coisas negativas sobre nós, a encarnação de Jesus
revela nosso valor diante de Deus. Jesus nasceu aqui para nos salvar. Ele nos
amou até o fim (Jo 13:1). Deu tudo o que tinha – Sua glória, a adoração dos anjos,
Sua dignidade – para que a carne que Ele havia assumido fosse humilhada, ferida
e morta em nosso favor.

Só há duas reações. A primeira é recebê-Lo como Senhor e adorá-Lo. Os
pastores visitaram Jesus na manjedoura (Lc 2:15, 16). Os magos O encontraram
em uma casa e O adoraram (Mt 2:11). Outros foram avisados, mas responderam
com indiferença e até mesmo violência contra os bebês de Belém (Mt 2:16-18).
A manjedoura desperta em nós uma resposta. Podemos amar Jesus por Sua
humildade ou rejeitá-Lo por Sua humildade. Podemos amá-Lo por Sua pureza ou
rejeitá-Lo por Sua pureza. Tudo depende de uma decisão. Por mais diferentes que
sejamos de Jesus, o maior e mais sublime alvo de nossa vida deve ser caminhar com
Ele, aprender Dele, ser como Ele pela convivência, ao contemplá-Lo todos os dias.


III. A manjedoura revela como Deus nos salva

  1. Cristo nos salva sem ajuda humana. O nascimento de Jesus foi obra divina.
    Ele foi concebido pelo poder do Espírito Santo. A ida de José e Maria para Belém,
    os magos guiados por uma estrela, o coral dos anjos, foram ações de Deus. O luxo
    e a aparência humana não poderiam dividir espaço com a glória de Deus naquele
    nascimento. Isso encerra uma grande lição (leia Ef 2:9).
  2. Cristo nos salva com uma doação. Na natureza e no Universo, tudo foi
    feito para servir, doando algo. Esse é um elemento essencial do caráter divino.
    Deus amou tanto o mundo que deu Seu Filho (Jo 3:16). Em meio a uma guerra
    sangrenta, foi posto um berço em nome da paz na Terra (Lc 2:14).
  3. Cristo salva pelo sacrifício. Um bebê deitado em um cocho para os animais não é uma cena tão amável assim. Não é em um lugar como esse que costumamos pôr nossos bebês. Jesus foi colocado ali porque não havia lugar para
    sua família. Ele nasceu em um lugar completamente impróprio. Desde antes de
    nascer, Cristo enfrentou resistência dos pecadores (Hb 12:3). A cena incomum
    da manjedoura apontava para a cena impensável do Calvário. O nascimento de
    Cristo ocorreu na “plenitude dos tempos” (Gl 4:4), e Sua morte, na “hora” para
    a qual Ele veio (Jo 12:27). Diversas vezes tentaram antecipar Sua morte, mesmo
    nos primeiros dias de vida. Mas ninguém poderia tirá-la assim (Jo 10:18). A manjedoura foi o primeiro passo para o Calvário. Cristo teria que padecer, não um
    sofrimento que salva, mas um sacrifício que exige sofrimento.
  4. Cristo nos salva pela expiação. Desde o começo de Sua vida, Jesus trocou o
    que Ele tinha conosco. Entrou em nosso estábulo na Terra para que adentremos Seu
    palácio no Céu. Assumiu nossa humanidade para que, por Sua divindade, alcancemos o abraço do Pai. Ele Se tornou pobre para que ficássemos ricos (2Co 8:9).
  5. Cristo salva elevando a criação. Antes do pecado, o Universo não sabia do
    que Deus era capaz de fazer. Ninguém imaginava que Ele seria capaz de Se desfazer
    de tudo e Se mostrar como é. Ninguém imaginava que o Filho de Deus nasceria em
    um recinto para animais. Ficou claro que Deus é puro amor e humildade. Os seres
    do Universo sempre terão certeza plena do amor divino. Além disso, o recomeço vai
    ser maior do que a queda, pois o ser humano vai ser posto em uma posição maior
    do que a que tinha. Na criação, Deus fez o ser humano à Sua imagem; na redenção,
    Deus “nasceu” à nossa imagem. Nossa raça foi elevada com a participação de Jesus.
    A Terra, o palco da manjedoura, se tornará o centro do governo do Universo. O ser
    humano, a Terra e o Universo nasceram de novo naquela manjedoura.
    É hora de recomeçar. O nascimento de Jesus foi o grande recomeço da humanidade, mas Deus chama você hoje a renascer. Ao contemplar o amor e o espírito
    de sacrifício de Cristo, abra seu coração a Ele, permita que Ele seja o Senhor de
    sua vida.
  1. Caminhando com Cristo, sua vida será uma bênção!