Reinos com pés de barro

As riquezas conquistadas na terra não são um problema, mas não podem ocupar o espaço de Deus

Por Josanan Alves| Brasil22 de setembro de 2022


Homem rico se esqueceu de onde vinha sua fortuna e o quanto a vida é finita (Foto: Shutterstock)

Nos textos anteriores, você encontrará artigos de uma série com base em meu livro, Herdeiros do Reino, lançado pela Casa Publicadora Brasileira (CPB)Baseado no livro bíblico de Daniel, apresento lições que extraí dele para minha vida. Abaixo, compartilho com você uma versão resumida do quinto capítulo. Caso ainda não tenha lido os demais, acompanhe-os aqui.


“A vida de uma pessoa não consiste na abundância dos bens que ela tem” (Jesus Cristo).

Um dos textos bíblicos que mais podem nos ensinar sobre a verdadeira humildade é o capítulo dois do livro de Daniel. É interessante notar que um dos pontos de destaque no livro de Daniel é o contraste entre a humildade do profeta e seus amigos e a arrogância dos governantes e sábios da Babilônia e Medo-pérsia. De diversas formas isso fica evidente no livro, inclusive no sonho dado a Nabucodonosor no capítulo dois.

A Bíblia nos diz que o rei teve um sonho e Daniel recebeu de Deus a interpretação. O sonho era sobre “uma grande estátua. Esta, que era imensa e de extraordinário esplendor” (Daniel 2:31), estava dividida em cinco partes. “A cabeça era de ouro puro, o peito e os braços eram de prata, o ventre e os quadris eram de bronze; as pernas eram de ferro, e os pés eram em parte de ferro e em parte de barro” (Daniel 2:32-33). Cada uma dessas partes representava um reino que dominaria a terra. Esses reinos eram a Babilônia, Medo-Pérsia, Grécia, Roma Imperial e Roma Religiosa.

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Quatro pontos nessa profecia nos falam sobre a necessidade de compreender a humildade que devemos ter diante da soberania divina. Em primeiro lugar, cada um desses reinos buscava domínio territorial, poder absoluto e riquezas materiais. De certa maneira, cada um deles conseguiu essas conquistas, mas a sucessão de materiais da estátua mostra que cada reino seria inferior ao anterior, assim como a prata é inferior ao ouro, o bronze é inferior a prata, o ferro é inferior ao bronze e o barro é inferior ao ferro. Segundo, fica claro nessa profecia que cada reino chegaria ao fim e seria substituído por um outro reino. Terceiro, todos os reinos, por mais grandiosos que fossem, estavam sendo sustentados por uma frágil estrutura de barro misturado com ferro. E por fim, todos seriam despedaçados e reduzidos a pó por um reino que duraria eternamente (Daniel 2:34-35).

Imagine Daniel diante do homem mais poderoso do planeta explicando esses detalhes, dizendo que o reino da Babilônia terminaria e que seria substituído por um outro. A maneira como Deus revelou o sonho e o seu significado foram tão fortes que o rei se inclinou, prostrou-se com rosto em terra diante de Daniel e disse: “Certamente o Deus que vocês adoram é o Deus dos deuses e o Senhor dos reis” (Daniel 2:47).

Reinos e a humanidade

Infelizmente, muitos de nós lemos o capítulo dois de Daniel e só conseguimos ver a história dos reinos. Mas eu quero convidá-lo a ver esse sonho e sua interpretação como a história de cada pessoa e a resposta divina ao desejo natural do ser humano de estabelecer o seu próprio reino, em oposição ao reino de Deus. Em maior ou menor grau, todos queremos domínio, poder e riquezas. E não há problema em desejar essas coisas, desde que a nossa compreensão dessas palavras esteja de acordo com a compreensão divina. Não é que Deus tenha algum problema com riqueza, domínio ou poder, a questão é que Ele sabe o quanto essas coisas são passageiras e Ele não deseja que seus filhos se dediquem unicamente a coisas finitas. O domínio que devemos buscar não é territorial e sim o domínio do nosso caráter. O poder oferecido aos filhos de Deus não é medido por status ou função, mas sim pela plenitude da presença do Espírito em nossa vida. A riqueza divina disponível não se mede pela quantidade de dinheiro na conta do banco, mas pelo amor dispensado a Deus e ao semelhante.

Precisamos nos perguntar que tipo de reino, poder, riqueza e domínio estamos buscando. Precisamos entender que todo reino, riqueza e poder desta terra tem pés de barro, ou seja, pode desmoronar facilmente a qualquer momento. Certo dia, Jesus contou a seguinte parábola sobre isso: “O campo de um homem rico produziu com abundância. Então ele começou a pensar: ‘Que farei, pois não tenho onde armazenar a minha colheita?’ Até que disse: ‘Já sei! Destruirei os meus celeiros, construirei outros maiores e aí armazenarei todo o meu produto e todos os meus bens. Então direi à minha alma: Você tem em depósito muitos bens para muitos anos; descanse, coma, beba e aproveite a vida.’” Mas Deus lhe disse: ‘Louco! Esta noite lhe pedirão a sua alma; e o que você tem preparado, para quem será?’ — Assim é o que ajunta tesouros para si mesmo, mas não é rico para com Deus” (Lucas 12:16-21).

Qual era o verdadeiro problema do homem da parábola? O problema era o fato de os campos dele terem produzido em abundância? Ou o fato de ele decidir construir grandes celeiros? Ou o fato de ele ter bens em quantidade suficiente ao ponto de poder comer, beber, descansar e aproveitar a vida? Não! Essas coisas não são problema em si mesmas. O grande problema daquele homem é denunciado pela forma de se expressar. Por quatro vezes ele disse: “minha colheita”, “meus celeiros”, “meus produtos” e “meus bens”. E na parábola ele é chamado de louco (essa é a única vez que Deus chama alguém de louco na Bíblia), pois não percebeu que todo o seu reino iria desmoronar naquela que seria sua última noite de vida.

“Pela parábola do rico insensato, mostrou Cristo a loucura dos que fazem do mundo seu tudo. Este homem recebera tudo de Deus… Não pensou em Deus, de quem vieram todas as dádivas… Esse homem vivera e planejara para o eu… Este homem escolheu o material em vez do espiritual, e com o material tem que sucumbir… A ilustração é aplicável a todos os tempos. Podeis planejar meramente para a própria satisfação egoísta, acumular tesouros, construir mansões grandes e altas como os arquitetos da antiga Babilônia; porém, não podeis arquitetar um muro tão alto e um portal tão forte que exclua os mensageiros da vingança.”[1]


Referências:

[1] Ellen White, Parábolas de Jesus. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2009, p.256-259.

Josanan Alves

Josanan Alves

Primeiro Deus

Histórias e provas de fidelidade a Deus em todos os momentos e circunstâncias da vida.

Josanan Alves de Barros Júnior é formado em Teologia. É o atual diretor do departamento de Mordomia Cristã da sede sul-americana da Igreja Adventista. @JosananAlves