TRANSFORMAÇÃO – O PROPÓSITO DE DEUS NA TERRA DA TRANSIÇÃO

Hoje falaremos da terra da transição. Apesar de muitos a conhecerem, vou descrevê-la.

Imagine que por quatro anos um aluno de faculdade teve a oportunidade, o privilégio, o conforto de quando perguntado: “O que você faz?”, poder dizer: “Eu faço Pedagogia”, “Eu faço Engenharia”. E então vem aquele dia tão esperado, mas carregado de um peso horrível, a formatura.

Realidade: não há aquele emprego ou carreira que dê certo e tenha qualquer coisa a ver com os quatro anos de estudo.

Dessa forma, muitos investem quatro anos na faculdade, tempo, dinheiro, energia, e então acabam trabalhando em algo semelhante ao que deixaram antes de iniciarem o curso.

Bem-vindos à terra da transição. E na terra da transição usamos a expressão “por enquanto” indicando que “por enquanto estou vivendo com meus pais”.

“Por enquanto estou trabalhando na loja de roupas, a mesma loja em que eu trabalhei quando estava no último ano do ensino médio, ganhando quase o mesmo salário”.

“Por enquanto” é a linguagem da terra da transição, porém, sabemos que isto não é só para recém-formados. Bem–vindos à terra da transição.

Pense naquela mãe que anda pela casa e pega uma fotografia da família tirada há dez anos. Ela contempla os olhos da sua filha de sete anos. Agora a filha tem 17 anos, está distante,

rebelde, irada, mas ela contempla aquela fotografia de família onde a menina parece livre, inocente e feliz. Ela pensa: “O que aconteceu com a minha filha?”

É aqui que muitos de nós estamos hoje. Você passa por uma decepção, uma depressão. Uma nuvem parece seguir você. Você nem sabe como entrou nessa situação, tampouco sabe como vai sair dela. Você sabe, com certeza, que orar parece não estar funcionando e você espera que a situação passe logo.

Bem-vindos à terra da transição, que num sentido mais amplo representa o espaço de tempo entre o Éden Perdido e a Nova Canaã.

  1. O POVO DE ISRAEL NA TERRA DA TRANSIÇÃO – REVOLTA
  2. AMBIENTE DE RECLAMAÇÃO ENTRE TERRAS PRÓSPERAS

Embora o Egito fosse um lugar de escravidão, era próspero. No delta do Rio Nilo as coisas simplesmente cresciam.

Ainda que fosse um povo escravo, habitava em uma terra muito fértil e agora estava a caminho da terra da promessa, que é Canaã, a terra dos seus antepassados, Abraão, Isaque e Jacó.

Porém, agora, eles não estão no Egito, a terra da escravidão; eles também não estão em Canaã, a terra que mana leite e mel. Eles, meus amigos, estão na terra da transição. Eles estão no deserto, e isso gera problemas.

MANÁ – O ALIMENTO INSUPORTÁVEL

O povo marchava pelo deserto há algum tempo. Talvez você fique pensando: “Espere um momento, centenas de milhares de pessoas estão neste deserto. Porque se meu cálculo estiver correto, não há comida para todos, muito menos por cerca de dois anos. Como foi possível se alimentarem por tanto tempo em uma terra infértil?”

Ainda bem que vocês perguntaram, porque Deus proveu uma substância alimentícia chamada maná, que queria dizer “o que é isso?”, porque essa foi a pergunta feita quando o viram no chão.

Ao levantar-se pela manhã o povo viu que com o orvalho havia flocos e perguntaram: “O que é isso?”

Então eles pegavam e recolhiam estes flocos e os colocavam num pilão, trituravam-no, colocavam água, cozinhavam e faziam um tipo de mingau que se tornava alimento. Também faziam bolos com ele, e esta era a substância que Deus lhes provia por ter um coração gracioso. Eles podiam comê-lo no café da manhã, no almoço e no jantar. E no próximo dia, café da manhã, almoço e jantar, e no próximo dia, café da manhã,

almoço e jantar, e no próximo dia, café da manhã, almoço e jantar!

Tudo bem, de fato nós vamos examinar a situação de perto e, meus amigos, há um tipo de revolta prestes a acontecer sobre a questão do maná. Assim, em Números 11, quero ler para vocês a revolta que está para estourar. Números 11, versículo 4, é importante ler isto com uma voz chorosa!

“E o populacho com eles começou a desejar outras comidas e de novo os israelitas começaram a reclamar dizendo: ‘Se ao menos tivéssemos carne para comer! Oh, lembramo-nos dos peixes que comíamos no Egito de graça, e os pepinos, e os melões, e os alhos porós, e as cebolas, e os alhos, mas agora perdemos o apetite. Não vemos nada, além disso (o que é isso – maná)?’”

Tudo bem, você pode achar que no deserto quase nada cresceria. Meus amigos, a terra da transição é terreno fértil –fértil para a reclamação. Ouçam o que eles dizem: “Estamos cheios disto. Estamos cheios daquilo. Não aguentamos mais isto!”

Você já comeu a mesma refeição, o mesmo alimento, vez após vez, durante uma época de dificuldades financeiras ou durante uma aventura?

O que eu estou dizendo é que é possível ler essa história e achar que somos superiores, que eles são apenas um grupo ingrato e revoltado. Contrário a isso, eu convido você, amigo, a colocar-se no lugar desses personagens, nas mesmas circunstâncias! A Extensão Verdadeira da Reclamação.

Agora, isto é assunto sério, porque eles não estavam simplesmente reclamando da sua condição. Vamos descobrir mais tarde, na história, que eles estavam reclamando de Deus. Essa condição fez com que o povo desejasse trazer de volta os dias vividos no Egito. Era como se estivessem dizendo: “Estávamos melhores como escravos. Estávamos melhores sem Ti”.

É possível, por meio dos versos bíblicos, contemplar a insatisfação e amargura nas palavras que diziam. Essas reclamações são refeitas nos dias atuais quando nos deparamos com outros problemas. Apenas imagine:

“Deus, eu estava melhor quando o Senhor não estava em minha vida. Estou cheio de viver na casa dos meus sogros.

Estou cheio de chegar ao fim do mês e ficar imaginando quais as contas que eu pago e quais eu não pago. Estou cheio de deitar na cama à noite imaginando onde meu filho adolescente foi parar. Estou cheio de tentar resolver este conflito na igreja.

Estou cheio de tentar restaurar meu casamento. Estou cheio disso”.

Você acha que nada cresce no deserto? Cuidado, pois a terra da transição é solo fértil para a reclamação.

II. MOISÉS NA TERRA DA TRANSIÇÃO – EXPLOSÃO DE NERVOS

A QUEIXA DE MOISÉS – EXPLOSÃO NERVOSA

Nesse ponto tenho uma pergunta a fazer: Como Deus vai se encontrar com o seu servo Moisés? Lembre-se que a princípio Moisés não queria esta tarefa. Então, agora vamos tirar o foco do povo e voltá-lo para Moisés. Ele é uma rocha, certo?

Ele é inabalável, certo?

Bem, estamos prestes a ouvir Moisés quando ele ora, e meus caros amigos, esta é uma das orações mais honestas já pronunciadas. Quero que você note os pronomes eu, mim, eu, mim, eu, mim, no versículo 11, OK?

“Por que trouxeste tal problema sobre teu servo? O que eu fiz para Te desagradar que Tu pões o peso de todo este povo sobre mim? Por acaso eu gerei este povo? Eu o dei a luz? Por que me dizes para levá-lo no meu colo como a ama leva um infante para a terra que prometeste com juramento aos seus pais? Onde eu encontraria carne para todo este povo? “Eles reclamam a mim: ‘Dá-nos carne para comer’. Eu não posso levar sozinho todo este povo. É pesado demais para mim. Não posso mais levar este peso. É pesado demais para mim”.

A terra da transição não apenas é fértil para reclamação, é terra fértil para explosão nervosa. É uma terra fértil para o descontrole emocional e, se você pensa que estas palavras são muito fortes, veja o verso 15, onde se lê:

“Se vais me tratar desta maneira mata-me agora mesmo.

Se tenho encontrado graça em Teus olhos não me deixes ver.

Não me deixes ver minha desgraça. Deus, eu só tenho um pedido nesta situação toda: Se Tu me amas mata-me agora”.

Uma pergunta: que voz você ouve lá além da voz de Moisés em seu dia ruim? De quem é a outra voz?

Nossas queixas: Eu ouço a voz de um casal após um exame médico quando ainda não há qualquer diagnóstico concreto.

E finalmente a esposa diz: “Está pesado demais. Não posso mais carregar este peso”.

Eu ouço a voz de pais tentando servir na igreja; eles têm   um filho adolescente que fugiu de casa e para longe de Deus, cujo coração está inacessível e eles não sabem se o filho um dia voltará para casa. Há um ponto de desespero em que dizem:

“Isto é pesado demais. Não posso mais carregar”. O verso 16 deste capítulo diz:

“O Senhor disse a Moisés: reúna setenta anciãos de Israel que saibas serem líderes do povo e seus oficiais. Leva-os até a tenda da congregação para que estejam ali contigo. Então descerei e falarei ali contigo e tirarei do Espírito que está em ti e porei o Espírito neles. E eles te ajudarão a levar o peso deste povo para que tu não o leves sozinho”.

A DIVISÃO DO TRABALHO DE MOISÉS

Não sei exatamente como isto funcionou. Aparentemente quando Moisés foi escolhido para ser líder do povo ele recebeu uma capacitação especial de Deus. É como se tivesse recebido uma plenitude especial do Espírito de Deus para esta tarefa de liderança.

Então Deus diz: “Tirarei do Espírito que está em ti e o dividirei em partes pequenas. Tirarei do Espírito que está em ti e o porei neles”. Portanto, você supostamente tem 70 mini Moisés, certo?

III. A TERRA DA TRANSIÇÃO É A TERRA DA PROVISÃO, DA DISCIPLINA DIVINA E DA TRANSFORMAÇÃO HUMANA

DEUS PROVÊ NA TERRA DA TRANSIÇÃO

Você pensa que quase nada cresce no deserto? A terra da transição não é apenas terra fértil para reclamação e explosão nervosa. Meus amigos, a terra da transição é solo fértil para a provisão de Deus. E Ele provê. Aqui ele provê líderes como parte da equipe de Moisés.

Quão grandes coisas contemplaremos se, embora cansados, abrirmos as nossas mãos e dissermos: “Eu não posso mais levar isto!”. Posso ouvir o nosso Deus gracioso dizer: “Conserve suas mãos abertas e eu proverei”.

Deixe suas mãos abertas para se livrar da ansiedade esmagadora que você está carregando, porém, mantenha ainda as suas mãos abertas para receber aquilo que Deus proverá para sua vida.

Olhemos novamente para Moisés: Deus agiu em seu favor na divisão das responsabilidades de liderança do povo.

Lembre-se que há a revolta do maná na Península do Sinai.

Deus não esqueceu e tratou desse assunto também, o assunto da falta de carne, pois o povo estava cheio do maná. Sobre isso, vejamos o verso 18:

“E dirás ao povo: santificai-vos para amanhã e comereis carne. Pois reclamastes diante do Senhor dizendo: ‘Quem nos dará carne para comer? Pois estávamos bem no Egito’. Por isso o Senhor vos dará carne e comereis. Não comereis um dia, nem dois dias, nem cinco dias, nem dez dias, nem vinte dias, mas um mês inteiro, até que a carne vos saia pelo nariz, até que tenhais nojo dela”.

Está bem aqui na Escritura Sagrada: “Até que saia pelo vosso nariz. Porque rejeitastes o Senhor que está no meio de vós e reclamastes diante dele, dizendo: ‘Por que saímos do Egito?’”

Alguém se meteu em problemas! Note que aqui está o problema. Eles não estavam apenas reclamando da comida do restaurante. Eles tinham ido mais além e estavam dizendo:

“Deus, nossa vida era melhor sem Ti. Era melhor quando estávamos no Egito. Era melhor quando éramos escravos.”. E isso se parece mais com uma traição cósmica. “Era melhor quando não éramos o Teu povo. Nossa vida era melhor sem Ti”.

Portanto eis a promessa de Deus: “Eu vos darei carne por um mês”.

E Moisés responde: “Se assássemos todos os cordeiros e todos os bodes e enviássemos grupos de pesca que pescassem todos os peixes do mar, ainda assim eu não poderia alimentar este povo. Como Tu vais prover alimento por um mês?”

Há uma resposta breve aqui que eu gosto muito. Pense bem nisso. O Senhor respondeu a Moisés (v. 23):

“Por acaso a mão do Senhor não tem mais poder? Você está questionando minha bondade ou meu poder? É uma questão de capacidade?”

Para alguns de vocês hoje esta é a razão de estar aqui. Isso é o que você precisava ouvir: “Por acaso a mão do Senhor não tem mais poder? Será que Deus é muito fraco para intervir?”

DEUS DISCIPLINA NA TERRA DA TRANSIÇÃO

A terra da transição não é apenas solo fértil para a provisão de Deus, e sinto muito que temos de mudar o tom aqui.

É também solo fértil para a disciplina de Deus. E esta parte da história é simplesmente feia. Deus envia a maior de todas as migrações de codornizes. A Bíblia diz que Deus trouxe as codornizes e um vento as soprou chegando a quase um metro de altura. E diz que cada pessoa recolheu cerca de 10 ômeres.

Ômer é uma cesta de cerca de 200 litros, 10 cestas dessas, uma carga de caminhão para cada um. E diz que eles estenderam–nas no chão. Acho que queriam secá-las. Então você lê o seguinte no texto: “Enquanto a carne ainda lhes estava entre os dentes, acendeu-se a ira do Senhor contra eles e os feriu com uma praga muito grande”.

Eles reclamam da comida e pessoas morrem. Pensem comigo sobre disciplina. Respeitamos pais amáveis, que exercitam disciplina no tempo certo e de forma apropriada aos filhos. Isso não é o oposto do amor, isso é parte do amor.

Você sabe o que disciplina envolve? Aplicar a dor com propósito redentor. Não é causar dor só pela dor. É dor para resgatar algo e Deus está tentando resgatar algo aqui.

Somos imaturos ao pensar que estamos imunes à Sua mão corretiva quando adotamos um espírito de reclamação que começa com: “Minha vida estava melhor sem Ti. Minha vida antiga era melhor”.

DEUS OPORTUNIZA TRANSFORMAÇÃO NA TERRA DA TRANSIÇÃO

Penso que o centro do que aprendemos é que a terra da transição é solo fértil para crescimento e transformação pessoal. É um dos melhores solos que teremos em nossa vida para aprender a confiar no nosso Pai celestial (e acho que é isso que Deus está sussurrando nessa história). “Por meio desta história preciso que confies em Mim”, diz o nosso Deus.

Olhe, entenda uma coisa: quando este grupo, os israelitas, deixou o Egito, não era um grupo perfeito e bom, não era um grupo de seguidores do Senhor. Os israelitas haviam sido expostos por gerações à adoração de ídolos no Egito. Eles faziam parte de uma multidão rebelde de ex-escravos.

Meus amigos, na terra da transição, o deserto, até aquele momento, era para transformá-los: de um povo escravo para ser o povo de Deus. Eles precisavam desse tempo.

Era como se em todo momento Deus falasse: “Preciso que confiem em Mim. Quando vocês ficarem sem água, precisam confiar em Mim. Quando ficarem sem alimento, vocês precisam confiar em Mim. Quando o exército de faraó atacar, vocês precisam confiar em Mim, porque vocês vão entrar na terra da promessa e serão meu povo”.

CONCLUSÃO

A terra da transição é um solo fértil para crescimento transformacional, mas isso não acontecerá automaticamente.

O tempo, ao contrário dos ditados populares, não tem o poder de curar todas as mágoas.

Isso significa que ao você viajar pela terra da transição, seu coração estará em perigo. Há escolhas que você precisará fazer e que vão determinar quem você será no futuro. O deserto é a melhor estufa para o crescimento transformacional. O deserto é também o lugar onde a fé poderá morrer. Nós escolhemos.

Por outro lado, lembre-se que a reclamação não precisa de convite; ela chega sem ser convidada.

Ao passar por um dia de desapontamento, chegue a sua casa e descubra as reclamações que estão no seu quarto de hóspede, os pensamentos que viraram inquilinos e tomam parte de sua vida. Entenda que não será fácil despejar tal inquilino, pois as reclamações resistem à expulsão.

Você pode impedir o retorno das reclamações ao convidar outro hóspede para a sua casa. Esse hóspede é a confiança:

“Senhor: ajuda-me a confiar em Ti nisto, peço Tua provisão porque estamos morrendo aqui”.

A confiança expulsa as reclamações. Elas são colegas de quarto incompatíveis. O que estou dizendo hoje é que esse espaço na sua vida do qual você mais se ressente, a terra da transição, é o solo onde Deus quer produzir a colheita que nós tão desesperadamente desejamos.

A terra da transição, o espaço que odiamos, é o solo onde Deus produz algumas das Suas riquezas e Suas obras mais profundas.

Possa Deus lhe abençoar na terra da transição. Guarde o seu coração. Que a sua confiança cresça. Que nosso gracioso Deus possa restaurar seu riso, que Ele aumente seu regozijo.

Que você descubra Sua presença e bondade na terra da transição.

E o melhor de tudo,