Consolados pela Palavra

7 O DIA | SEXTA-FEIRA – SEMANA SANTA



Intermináveis dois minutos e meio depois, chegavam os
paramédicos para atender o tricampeão Ayrton Senna. Imagens aéreas não davam
conta da gravidade das lesões. Após alguns momentos críticos de atendimento na
pista, um helicóptero o levou ainda com vida para o Hospital Maggiore, a 15 minutos dali, em Bolonha. Senna foi atendido em coma profundo, com múltiplas fraturas
no crânio e uma perfuração gravíssima na têmpora.
Trinta e sete minutos após o acidente, a corrida recomeçou, e os carros passaram 54 vezes ao lado da enorme poça de sangue, em um evento infame que,
por vários motivos legais, jamais deveria ter prosseguido. Na sexta-feira, Rubens
Barrichello voou a 300 km por hora para a morte, mas sobreviveu. No dia seguinte,
o piloto austríaco Roland Ratzenberger perdeu o controle do carro e se chocou
fatalmente contra um muro. Naquele dia, Senna interrompeu sua participação nos
treinos de qualificação e demonstrou grande preocupação com a segurança dos
pilotos. Mas foi em vão. Nada interrompeu a marcha sinistra para o seu dia fatal.
Às 13h40 do domingo, horário de Brasília, o jornalista Roberto Cabrini
anunciava em tom pausado e grave a morte cerebral de Ayrton Senna. Em São
Paulo, a cidade natal de Senna, uma tarde fria e nublada parecia emoldurar a
profunda tristeza e o luto de toda uma nação. Senna tinha o carinho de pessoas
em todo o mundo. O pentacampeão e amigo pessoal do piloto, o argentino Juan
Manuel Fangio, o abalou profundamente (ver reportagem “A Última Curva”, UOL
Notícias). No Japão, Senna era visto quase como um samurai, e a equipe de narração da TV daquele país anunciou seu falecimento aos prantos.
No Brasil, a notícia causou forte comoção. As ruas ficaram desertas. O governo
declarou luto oficial de três dias, e o piloto recebeu honras de chefe de Estado.
A aeronave que transportava seu corpo recebeu uma escolta de aviões de caça.
Em solo, o cortejo do aeroporto ao local do velório era ladeado por mais de um
milhão de pessoas que inundaram as ruas. Elas se aglomeravam nas calçadas,
nos prédios e nas pontes, e até se viu gente pendurada nos postes de iluminação;
algumas paravam atônitas ou com as mãos no rosto, em lágrimas.
O rosto de Senna nunca mais foi visto após o acidente, ocorrido quando tinha
34 anos de idade. Restaram as lembranças das vitórias épicas, de seu carisma, do
gênio na pilotagem e dos valores espirituais e humanos. Restou aquele capacete
amarelo que crescia no retrovisor dos pilotos. Ayrton era um leitor da Bíblia, costumava orar e tinha fé em Deus, o que deixou uma marca em seu túmulo onde está
escrito um trecho de Romanos 8:38: “Nada pode me separar do amor de Deus.”
Uma perda dessa magnitude nos ajuda a ter uma ideia do que significa um luto
coletivo. Em outro domingo cinzento, milhares de pessoas lamentavam em suas
casas a morte de um grande Herói.

Havia realizado curas inimagináveis e rompido a barreira da morte,

ressuscitando pessoas. Mas então, surpreendentemente, morreu! Em Lucas 24:13 a
27, dois discípulos, um deles chamado Cleopas (v. 18), que seguiam de Jerusalém para
Emaús, conversavam sobre o ocorrido e lamentavam a morte de Jesus (v. 21).
Foi quando um Estranho Se aproximou e começou a conversar com eles. Era
o próprio Jesus ressuscitado, mas não o reconheceram. Cristo começou a falar das
profecias bíblicas sobre o sofrimento do Messias e Sua ressurreição. A ressurreição definiria em grande parte o testemunho dos primeiros cristãos. Porém, deveriam fundamentar sua fé na Bíblia. Hoje vamos refletir sobre esses dois pontos.


I. Não duvide do poder de Deus

Sabiam que as mulheres tinham ido ao sepulcro
e que viram anjos (v. 22, 23); contudo, duvidavam. Não poderia ser verdade. Assim,
eles não ficaram em Jerusalém para conferir. Para eles, tudo estava acabado.

Muitos cristãos não acreditam em qualquer coisa diferente do “normal”.
Quantas vezes ficamos desconfiados de relatos maravilhosos e não acreditamos na
ação de Deus! Não acreditamos que Ele faz milagres, que Ele realiza maravilhas.
É certo que hoje o sinal da igreja verdadeira não são os milagres e as maravilhas, mas a verdade com base na Palavra de Deus. No entanto, a igreja verdadeira
também tem milagres, ela testemunha do poder de Deus. Ainda assim, muitos
não acreditam, não valorizam coisas desse tipo e até têm medo de reconhecer a
mão de Deus em certas situações. Você tem percebido os milagres de Deus em
sua vida? Tem visto que o mesmo Deus do passado atua hoje? (Hb 13:8).


II. Jesus anela consolar Seus filhos
Os dois discípulos estavam tristes e frustrados. Não era uma tristeza comum.
Era profunda. Alguém que representava muito para eles estava morto. Era um Herói
em quem haviam depositado todas as esperanças. Em certos momentos na vida, a
tristeza nos atinge. Mas o tamanho dela pode ser medido por como ela altera nossa
vida. A morte de Jesus significava uma perda muito grande, pois Ele não era apenas
um herói amado por Suas conquistas, mas pelo que representava para a esperança de
Israel (Lc 24:21). Eles acreditavam que Jesus libertaria a nação de seus dominadores.
Tinham certeza de que Jesus era o Messias prometido, mas seu coração foi
duplamente ferido, uma vez que tiveram:
(1) Uma decepção com os líderes da nação judaica. Foram os “principais
sacerdotes” e as “autoridades” que tinham condenado Jesus à morte, apesar de
Ele ter sido “poderoso em obras e palavras” (v. 19, 20).
(2) Uma decepção com o próprio Jesus. Embora tenham expressado que Jesus foi
vítima da condenação da nação, de certa forma entendiam que Jesus tinha Se submetido à
prisão. Para eles, Jesus tinha um poder sobre-humano que poderia ter usado para Se livrar
daqueles que O prendiam. Com Sua inteligência fora do comum, poderia ter Se livrado
do julgamento apenas com algumas palavras. Mas o que aconteceu? Jesus não falou nada.
Não Se defendeu. Para os que acompanharam o julgamento, parece que Ele desistiu de
viver. Seria isso um sinal de fraqueza? Jesus teria sido um impostor? Não podia ser!
Tudo isso os frustrava profundamente. A perda era grande demais para ser
suportada.

Você já ficou decepcionado com Deus?

Já orou e buscou tanto uma
resposta ou uma bênção que não veio? Orou tanto por uma pessoa doente, mas
por fim ela faleceu? Já passou por situações em que Deus poderia ter agido, mas
escolheu claramente não fazê-lo? Na caminhada cristã, muitas vezes passamos
por situações assim, quando Deus parece não corresponder às nossas expectativas. Mas, geralmente, quando Deus não responde da maneira que nós esperávamos é porque Ele tem algo muito melhor para nos dar (Is 55:9). Existem coisas
que não entendemos, e por isso precisamos confiar em Deus.
Jesus ansiava consolá-los. Ele poderia ter esperado um pouco, alguns dias
ou meses para refletirem. Contudo, logo no primeiro dia da semana, Cristo saiu
para consolar Seus discípulos. Ele não suportava esperar para aliviar o sofrimento deles. Geralmente pensamos que Deus só age em Seu tempo, que sempre
é maior do que o nosso. No entanto, embora Deus tenha Sua maneira de ver o
tempo, muitas vezes Ele não hesita em nos ajudar. Ele responde às nossas lágrimas. A grande questão não é Se Deus nos responde, mas se nós estamos abertos
a ouvir Sua resposta.
É curioso pensar que os discípulos de Cristo estavam sofrendo desnecessariamente. Em várias ocasiões, Jesus tinha avisado que era necessário que padecesse nas mãos dos pecadores, fosse crucificado e ressuscitasse ao terceiro dia.
Até os fariseus se lembravam disso (Mt 27:63). Deus nunca deixa Seu povo no
escuro. Ele sempre guia Seu povo por meio de profecias, para que não sejamos surpreendidos nem enganados. “Certamente o Senhor Deus não fará
coisa alguma, sem primeiro revelar o Seu segredo aos Seus servos, os profetas” (Am 3:7).
Muitos hoje estão confusos em relação a Deus, a Jesus, ao mundo, à morte,
à salvação, etc. Muitos questionam: “Como poderei entender, se ninguém me
explicar?” (At 8:31). Deus conta conosco para libertar as pessoas que não conhecem Sua Palavra. Precisamos manifestar a mesma compaixão de Jesus por
essas pessoas.
“Como, porém, invocarão Aquele em quem não creram? E como crerão
Naquele de quem nada ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue?”
(Rm 10:14).

Não podemos guardar conosco as boas-novas da salvação em Jesus.
Muitas pessoas estão presas na escuridão. Precisamos libertá-las com o poder da
verdade. Tudo o que você ouviu aqui e aprendeu na Palavra de Deus deve ser
compartilhado com outras pessoas.
III. Os que buscam encontram
Embora estivessem confusos, os dois discípulos tentavam entender o plano
de Deus. Eles criam que Jesus era profeta. Apesar de não entenderem o que tinha
acontecido, não abandonaram sua fé em Cristo.
Mesmo que estivessem temporariamente cegos, eram filhos de Deus! Deus não
rejeita Seus filhos porque eles não entendem Seus planos. O amor de Deus não esmorece apesar da memória curta e da pequenez de nossa fé. Ele é como um professor
paciente que se empenha pelos alunos.


IV. A Palavra de Deus é a base de nossa fé

Numa situação semelhante, Jesus Se revelou a Maria Madalena (Jo 20:1-16),
mas não Se revelou de início para os dois discípulos que iam para Emaús. Por
que Jesus não Se revelou aos discípulos no caminho de Emaús? Porque Ele queria
fundamentá-los na Palavra de Deus. Primeiramente, porque, apesar de estarem
tristes, a causa de sua tristeza era a frustração de uma grande expectativa. Eles
entendiam que o Messias viria de uma forma, mas Ele veio de outra. Isso exigia
não apenas um mero consolo, mas uma mudança na compreensão da Bíblia.
Jesus havia ressuscitado – isso era fato. Entretanto, era algo a ser avaliado pela
Palavra de Deus. Jesus ensinou que a igreja deve avaliar tudo à luz da Palavra de
Deus. Muitos que hoje fazem milagres em nome de Cristo serão rejeitados por
Ele (Mt 7:21-23).
Multidões buscam uma experiência com Deus, querendo que Ele Se manifeste pessoalmente a elas. Buscam ver ou sentir Jesus de alguma forma. Querem
que Ele realize milagres, que faça maravilhas e revelações. O povo de Deus
deve saber separar as coisas. A experiência é importante, mas acima dela deve
estar a Bíblia.
A fé não pode se basear apenas na experiência, naquilo que vemos, ouvimos e
tocamos. Tomé negava que Jesus tinha ressuscitado e só acreditaria se O visse
e tocasse. Então Cristo apareceu e “lhe disse: Você creu porque Me viu? Bemaventurados são os que não viram e creram” (Jo 20:29). A Palavra de Deus está
acima da experiência. “Se não ouvem Moisés e os Profetas, também não se deixarão convencer, mesmo que ressuscite alguém dentre os mortos” (Lc 16:31).
Após ter Se revelado nas Escrituras, Cristo Se revelou na experiência. Ao convidar Jesus para jantar com eles, reconheceram Jesus pela maneira como agradeceu
pelos alimentos. Possivelmente tenham visto os sinais nas mãos. Cristo escolheu Se
revelar a eles para aprofundar sua fé. Cristo Se importa com nossa necessidade de
conhecê-Lo pela experiência, por isso Ele Se revela a nós. Sem qualquer dúvida, o
conhecimento de Cristo na Bíblia nos leva a uma experiência mais profunda com
Ele. “Não é verdade que o coração nos ardia no peito, quando Ele nos falava pelo
caminho, quando nos explicava as Escrituras?” (Lc 24:32). Após conhecer a Cristo
nas Escrituras, temos segurança e convicção na experiência. Quando os dois discípulos viram a Cristo, não duvidaram, mas creram definitivamente. Foram consolados pela Palavra, o Filho de Deus (Jo 1:1), e pela Palavra, a Bíblia (Jo 17:17).


Assim como Jesus jantou com aqueles discípulos, Ele pode jantar com você: “Eis
que estou à porta e bato; se alguém ouvir a Minha voz e abrir a porta, entrarei em
sua casa e cearei com ele, e ele, Comigo” (Ap 3:20).



Vimos que Jesus não está aqui visivelmente, que Ele não pode ser visto com
os olhos da carne. Mas

Hoje o apelo de Deus é que você continue a conhecer Jesus por meio das Escrituras e
tenha uma experiência viva com Ele. Tome uma decisão de estudar a Bíblia para
encontrar nela a face de Cristo!