DELE, POR ELE E PARA ELE

ROMANOS
11:33-36

Ó profundidade da riqueza da sabedoria e do conhecimento de Deus!
Quão insondáveis são os seus juízos, e inescrutáveis os seus caminhos!
“Quem conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro? “
“Quem primeiro lhe deu, para que ele o recompense? “
Pois dele, por ele e para ele são todas as coisas.
A ele seja a glória para sempre! Amém.

O capítulo 11 é um dos pontos mais importantes na carta aos Romanos. Paulo está prestes
a fazer uma transição na ênfase apresentada na carta. Até este momento, ele havia escrito sobre
temas profundos da teologia. Do capítulo 1 ao capítulo 11, Paulo demonstra, passo a passo, a
maneira como o homem é justificado diante de Deus, como Cristo morreu pelos pecados da
humanidade e a relação entre a lei e o Espírito.
Nos primeiros 11 capítulos, Paulo apresentou temas como eternidade, escatologia, justificação, santificação, glorificação, natureza de Cristo, natureza do homem etc. Ele escreveu de
maneira tão profunda que Pedro chegou a dizer que havia coisas nos escritos de Paulo “difíceis
de entender” (2Pe 3:16).
No entanto, a partir do capítulo 12, ele passa a descrever as implicações práticas do evangelho
para a vida dos cristãos. Antes de fazer a transição entre a profundidade da teologia e as alturas
da prática cristã, ele escreve um lindo hino de adoração a Deus. É como uma pausa no livro
para levar os leitores a olharem para Deus e O adorarem por todas as verdades sobre a salvação
apresentadas até então.


DUAS VERDADES
Paulo nos ensina duas verdades nessa transição de temas:
Primeira verdade: É perigoso ter apenas o estudo de temas teológicos que não
levam à adoração. Uma teologia sem adoração pode tirar a vida e a alegria do cristianismo, e isso é muito perigoso. Por mais profundo que seja nosso conhecimento
teológico, ele só é verdadeiramente útil se nos levar à presença de Deus e à descoberta pessoal do amor de Cristo por nós.
Certo dia, o famoso teólogo Karl Barth foi entrevistado. O repórter queria
saber dele, um dos maiores teólogos do século 20, qual era a coisa mais profunda
que ele já havia descoberto em seus anos de estudo teológico. Imediatamente, ele
respondeu com as palavras da singela música infantil: “Sim, Cristo me ama, a
Bíblia assim me diz”.
Devemos estudar a Bíblia com profundidade, mas para ser realmente profundo,
o estudo tem que nos levar à adoração.
Segunda verdade: Uma adoração desprovida de teologia é igualmente perigosa.
O escritor Mark Johnston afirma corretamente que “a teologia é a espinha dorsal da
vida cristã”. Por isso, Paulo nos ensina nessa transição a ter o equilíbrio entre teologia e adoração. Uma deve estar intimamente ligada à outra. Da mesma forma que
não devemos apenas estudar temas teológicos sem que estes nos levem à adoração,
também não podemos ter adoração sem uma sólida base teológica.


TRÊS PASSOS PARA A ADORAÇÃO
Em seguida, Paulo apresenta os três passos para a verdadeira adoração: “Porque
dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas” (Rm 11:36).
Para começar, Paulo afirma que tudo é Dele. Só chegaremos a uma verdadeira
adoração com essa compreensão. Essa verdade é apresentada desde o primeiro verso
da Bíblia. Quando lemos: “No princípio, criou Deus os céus e a terra” (Gn 1:1),
geralmente pensamos que a primeira informação que temos sobre Deus nesse verso
é que Ele é o Criador. Na verdade, a primeira informação é “no princípio”. Isso quer
dizer que, apesar de Deus se apresentar naquele momento da criação, Ele já existia
antes desse princípio. Ele está por trás desse princípio, Sua existência é anterior a
esse princípio. Ele não precisa de nada meu, pois já existia sem o ser humano, e
nunca precisou de nada da humanidade na eternidade passada.
Logo em seguida, o relato de Gênesis afirma que Ele é o Criador. Isso quer dizer
que Ele é o proprietário de tudo. O salmista Davi afirma: “Ao Senhor pertence a
terra e tudo o que nela se contém, o mundo e os que nele habitam” (Sl 24:1).

Esse primeiro ponto é muito importante, mas temos que admitir que é o mais fá-
cil de ser compreendido pelos cristãos em geral. A maioria de nós não tem nenhuma
dificuldade em admitir que tudo pertence a Deus.
Paulo apresenta então o segundo ponto da verdadeira adoração: tudo é por meio
Dele. Esse ponto já é mais prático. Paulo afirma que tudo pertence a Ele e existe
por meio Dele. Em outras palavras, o que me vem às mãos não é por minha força,
sabedoria e capacidade, mas pela providência de Deus, que age em mim e me dá
força, sabedoria e capacidade. Para chegar à compreensão desse segundo ponto,
você precisa responder às seguintes perguntas: Você chegou onde está sozinho? Você
é o que é por conta própria? Você tem o que tem apenas por sua capacidade?
Tiago 1:17 nos ajuda a responder a essas perguntas: “Toda boa dádiva e todo dom
perfeito são lá do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não pode existir variação
ou sombra de mudança”.
Tudo de bom que temos e somos veio da amorável mão de Deus. Essa é uma
das principais diferenças entre o culto ao Deus verdadeiro e o culto pagão. O culto
pagão está centralizado no que os deuses poderão fazer se forem devidamente adorados, já o culto ao Deus verdadeiro é uma celebração do que Ele já fez por nós.
Para vivermos à altura dessas palavras, nossas ações precisam mostrar que tudo o
que temos veio por meio de Deus. Permitam-me explicar isso melhor. Certo dia, ouvi
um empresário cristão dizer que é impossível ser honesto e prosperar. Ele afirmou que,
para prosperar, é necessário sonegar impostos, burlar fiscalizações ou pagar propinas.
Esse empresário poderia até admitir o primeiro ponto: “Tudo é de Deus”; no
entanto, agindo de maneira desonesta, ele não poderia dizer que tudo veio por
meio de Deus, pois Deus não Se envolve com desonestidades. O mundo redefiniu
os valores morais, mas a Palavra de Deus continua com valores e princípios claros.
Se desejamos dizer que tudo o que temos e somos veio de Deus, precisamos avaliar se nossos valores morais estão de acordo com os valores divinos. Deus orientou
Moisés a dizer o seguinte aos israelitas:
“Não fareis segundo as obras da terra do Egito, em que habitastes, nem fareis
segundo as obras da terra de Canaã, para a qual eu vos levo, nem andareis nos seus
estatutos. 4Fareis segundo os meus juízos e os meus estatutos guardareis, para andardes neles. Eu sou o Senhor, vosso Deus” (Lv 18:3-4).
Não agir segundo as obras da terra do Egito ou de Canaã significava não imitar o
procedimento deles. Atualmente, Deus está nos dizendo: “Para que você possa dizer
que tudo o que tem vem de Mim, suas transações comerciais devem ser santas, suas
atitudes no trabalho e na escola devem ser santas”.

Isso não se aplica apenas para pessoas ricas e abastadas. Ellen White afirma: “As
melhores coisas da existência — a simplicidade, a honestidade, a veracidade, a pureza e a integridade — não se podem vender nem comprar. Elas são tão gratuitas
para o ignorante como para o educado, para o humilde trabalhador como para o
honrado estadista” (A Ciência do Bom Viver, p. 198).
Finalmente, Paulo afirma: tudo é para Ele. Nossa maior dificuldade é dar o terceiro passo e reconhecer que tudo o que temos é para Deus e Sua causa. Podemos
até admitir mentalmente que é Dele e Por Ele, mas temos que agir e ser fiéis para
demonstrar que tudo é para Ele. A verdadeira adoração só será alcançada quando
chegarmos ao ponto de expressar que tudo é para Ele.
A verdadeira compreensão dos dois primeiros pontos nos levará à vivência do
terceiro ponto. Quando entendermos que tudo é Dele e por Ele, viveremos o tudo
para Ele. Um bom exemplo disso é a primeira devolução de dízimos registrada na
Bíblia. Abrão havia vencido uma batalha inimaginável. Ele e seus servos enfrentaram e venceram os exércitos de quatro reis. Logo após a batalha, Abrão encontra o
sacerdote e rei Melquisedeque e lhe entrega os dízimos. No entanto, algumas coisas
aconteceram antes:

  1. O sacerdote afirmou que Deus é Aquele que “possui os céus e a terra” (Gn
    14:19). Em outras palavras, ele estava dizendo que tudo é Dele.
  2. Melquisedeque continuou dizendo que a vitória não foi conquistada pela força
    dos 318 servos de Abrão que foram à guerra. A batalha foi ganha pois o Deus
    Altíssimo entregou os adversários na mão de Abrão (Gn 14:20). Ele estava afirmando que a vitória vinha por meio de Deus. Tudo era Dele e por Ele.
  3. Só então Abrão entrega os dízimos a Melquisedeque (Gn 14:20). Agora tudo
    era para Deus. Você deve se perguntar: “Como tudo era para Deus se Abrão
    só entregou os 10% do dízimo?” Como vimos nos capítulos anteriores, a
    entrega dos dízimos e das ofertas representa um reconhecimento de que tudo
    o que temos pertence a Deus.
    Devolver el diezmo era la manera de Abraham de decir que reconocía a Dios en
    la victoria alcanzada. La pregunta final es: ¿Hemos sido fieles a Dios de forma que
    expressamos nuestro reconocimiento de que todo es de él, por él y para él?

    Gostaria de concluir essa mensagem com duas frases muito significativas. A primeira é de Ellen White. Ela afirma: “Nenhum ganho se poderia ter sem que primeiro tivesse havido um depósito. O Senhor adiantou o capital. Dele vem o êxito no negócio, e a Ele pertence a glória” (Conselhos Sobre Mordomia, p. 54). Precisamos reconhecer a soberania de Deus em tudo o que temos e somos.
    A segunda é do escritor cristão C. S. Lewis: “As únicas coisas que podemos conservar são as que entregamos a Deus. As que guardamos para nós são as que perderemos com certeza”.
    Ao compreendermos o real significado das palavras de Paulo em Romanos 11,
    devemos fazer uma entrega completa e profunda, à semelhança da entrega feita pelo
    conde Nikolaus Ludwig von Zinzendorf. O conde Zinzendorf nasceu numa família
    da alta sociedade em Dresden, Alemanha. Seu pai era secretário de estado e a família
    residia em um castelo. Aos 15 anos, ele seguiu para a Universidade de Wittenberg a
    fim de se preparar na faculdade de Direito para o serviço governamental, como era
    a praxe para rapazes da alta sociedade.
    Ao término de seus estudos, fez uma viagem pela Alemanha, Holanda, Bélgica
    e França (1719-1720). Em um museu, na cidade de Düsseldorf, ele viu a pintura
    “Ecce Homo”, de Domínico Feti. Ele ficou impressionado com o retrato do Cristo
    sofredor. No entanto, o que realmente o comoveu foram as palavras desafiadoras
    que estavam ao pé do quadro: “Tudo isto fiz por ti. O que fazes tu por Mim?”
    Ao sair do museu, ele decidiu entregar-se completamente à causa de Deus. Juntamente com alguns amigos, iniciou um movimento chamado “a ordem do grão
    de mostarda”, que mais tarde contribuiu fortemente para o grande despertar missionário do século 19. Quando Zinzendorf era questionado sobre o real motivo
    para tão expressivo e sacrificial movimento missionário, ele respondia usando Isaías
    53:11: “Estamos indo buscar para o Cordeiro o galardão do Seu sacrifício”.
    Hoje, quero convidar você a terminar este sermão pedindo perdão a Deus pelos
    momentos em que viveu de maneira contrária a este ensinamento, e a reafirmar,
    com suas palavras, a seguinte declaração: “Dele, por Ele e para Ele são todas as coisas que tenho e sou”. Vamos orar ao Senhor nesse momento.