TEMPOS INCERTOS COMO ACHAR CERTEZA NESTE MUNDO DE INCERTEZAS


MARCOS DE BENEDICTO
Foto: Adobe Stock


Em 1927, o físico alemão Werner Heisenberg criou um conceito que ficou
conhecido como “princípio da incerteza”. Segundo esse pilar da mecânica quântica, é impossível calcular com precisão, ao mesmo tempo,
a posição e a velocidade de um objeto. A partir daí, os físicos sempre
tiveram muita certeza sobre a incerteza e incerteza sobre a certeza!
Em 1977, exatos 50 anos depois, o economista canadense John Kenetth
Galbraith escreveu um livro intitulado A Era da Incerteza, nome também de uma série de TV. Nessa obra, em que analisa o pensamento econômico, ele contrastou as grandes certezas do século 19 com as incertezas do século 20. Os economistas também já não tinham tanta convicção sobre os caminhos a seguir.
Na teoria da probabilidade, o conceito de incerteza é sempre levado
em conta. Por isso, palavras como “possível”, “provável” e “plausível”
são muito utilizadas e, no fundo, querem dizer apenas que não há certeza
absoluta. Entre as fontes de incerteza estão falta ou excesso de informação, modelo usado para a medição, evidências conflitantes, mudanças
rápidas, ambiguidade e a crença do observador.
O fato é que o mundo está cada vez mais envolto em incertezas, com
um novo capítulo acrescentado recentemente. Além das incertezas
pessoais, temos hoje as psicológicas, sexuais, sanitárias, sociais, econômicas e políticas. Tudo ficou imprevisível. Mesmo com ferramentas mais potentes para tentar ler a realidade e decifrar o futuro, o caminho parece
enevoado. A própria teologia tem sido abalada pelas incertezas. Por isso, a
vida se torna mais arriscada.

CRER EM DEUS….


É UM RISCO CALCULADO

No entanto, a maioria das pessoas busca certezas. Muitas delas mudam
sua filiação religiosa e seus hábitos para ter mais segurança emocional. Afinal, precisamos de identidade, uma visão, um rumo. A certeza dá a sensação de controle. E, se alguns indivíduos têm certeza demais, outros têm de menos. É por isso que, no fogo cruzado da polarização, os radicais são vírus da incerteza que tentam criar certezas à força.
Hoje, mais do que no passado, as pessoas têm que viver e expressar sua
fé num ambiente que mistura certeza e incerteza. Mas podemos avançar com fé, que é “a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que
se não veem” (Hb 11:1). Com “a plena certeza da esperança” (Hb 6:11), “em
plena certeza de fé” (Hb 10:22), nos aproximamos do trono de Deus, que
controla o Universo.
Podemos ter certeza porque, mesmo em tempos de incerteza, Jesus estará
conosco todos os dias até o fim (Mt 28:20). O Espírito Santo é a presença pessoal Dele em nosso coração. Em seu livro De Servo Arbitrio
(A Escravidão da Vontade), escrito em 1525 em resposta a Erasmo de Rotterdam, Martinho Lutero argumentou que a religião não é uma simples questão de conjectura: “O Espírito Santo não é cético, e as coisas que escreveu em nossos corações não são dúvidas nem opiniões, mas asserções mais seguras e certas do que toda a experiência e a própria vida” (The Bondage of the Will [Baker Academic, 2012], p. 70).
Ao ler a matéria de capa desta edição, que trata da incerteza, deixe Deus
construir convicções em você. Nossa fé não elimina a incerteza nem os riscos, mas cada um de seus ensinos e símbolos aponta para a certeza. Crer
em Deus é um risco calculado para tempos de certeza, mas principalmente
de incerteza. ]
MARCOS DE BENEDICTO é editor da Revista
Adventista