COMO PEDRO TRATOU JESUS

Bater ou não bater, eis uma questão encarada por todos os pais. Estudos têm revelado que o tipo de disciplina não é tão importante quanto o fato de uma criança perceber que é amada e aceita junto com a disciplina. Porém, o meu pai escolheu bater! Quando éramos pequenos, ele usava alguma coisa leve. Certo dia, após ter levado uma surra, dirigi-me à minha mãe com um sorriso no rosto e disse: “Isto nem mesmo doeu!” Esse foi um dos meus maiores erros, porque ela contou fiara o meu pai o que eu havia dito e, dali em diante ele decidiu fazer bem certo! Porém, a pior “surra” que eu já recebi, foi quando meu pai nem mesmo me tocou. Estávamos de férias em uma ilha no meio do Lago Gull, em Michigan.

Meu irmão e eu estávamos outra vez brigando. Esse era nosso passatempo favorito. Estávamos estragando as férias para nós mesmos e particularmente para nossos pais. Meu pai tentou tudo que podia imaginar para fazer com que parássemos. Ele tentou suspender nossa sobremesa. Tentou mandar-nos para a cama sem jantar. Tentou fazer-nos ficar na cabine. Tentou nos batendo. Nada funcionou. Finalmente chegou o momento em quê nos chamou diante dele, outra vez, ali na cabine, tentando pensar em outra maneira de agir. Mas ele estava obviamente no fim de suas idéias. E então eu vi as lágrimas começando a fluir. Ver lágrimas no rosto de meu grande e forte pai era algo novo para mim. Entendi que eu havia causado desapontamento e tristeza para aquele que me amava, e não pude resistir às lágrimas. Eu poderia receber qualquer tipo de punição menos aquela. Subitamente, desejei mudar, para valer. Essa foi a pior repreensão que já recebi! Essa foi uma lição que Pedro aprendeu. Paramos no capitulo anterior, em S. Mateus 26 – a experiência de Jesus no Jardim do Getsêmani.

O anjo tinha voltado para o Céu e Jesus está dizendo a Seus discípulos que sigam em frente e durmam agora. “Falava Ele ainda, e eis que chegou Judas, um dos doze, e com ele grande turba com espadas e cacetes, vinda da parte dos principais sacerdotes e dos anciãos do povo.” Verso 47. “Naquele momento disse Jesus às multidões: Saístes com espadas e cacetes para prender-Me, como a um salteador? Todos os dias, no templo, Eu Me assentava [convosco] ensinando, e não Me prendestes. Tudo isto, porém, aconteceu para que se cumprissem as Escrituras dos profetas. Então os discípulos todos, deixando-O, fugiram.” Versos 55 e 56. Os discípulos foram subitamente despertados ali no jardim. Judas tinha levado a multidão a Jesus, dando o beijo que era o sinal de que era Ele.

Pedro havia tomado sua espada e amputado a orelha do servo do sumo sacerdote. Enquanto Jesus falava brevemente com eles, um anjo colocou-se entre Jesus e a multidão e, por um momento, parecia como se o plano deles houvesse sido derrotado. Porém, o anjo partiu outra vez e os discípulos, que tinham jurado que nunca O abandonariam, fugiram na escuridão. Até mesmo Pedro – que tinha sido o mais veemente dizendo: “Todos os outros podem abandoná-Lo, mas eu não” – até mesmo Pedro O deixou e fugiu. Então a multidão levou Jesus ao palácio de Caifás. Lá, tentaram encontrar falsas testemunhas que viessem com o tipo de acusação que levasse Jesus a merecer a morte. Porém, as falsas testemunhas lutaram – e o testemunho deles não coincidia. Jesus esperou pacientemente, não falando sequer uma palavra. Até que, finalmente, Caifás ficou desesperado. Ele mandou que Jesus, sob juramento dissesse se Ele era ou não o Cristo, o Filho de Deus. Neste ponto Jesus não continuou silente. Ele disse: “Eu sou.” Enquanto cada ouvido escutou Sua admissão, sob juramento, diante do sumo sacerdote, e cada olho observou, o rosto de Jesus brilhou com uma luz celestial. Então Jesus acrescentou algo que Caifás não havia perguntado. Ele disse: “Desde agora vereis o Filho do homem assentado à direita do Todo-poderoso, e vindo sobre as nuvens do céu.” Verso 64.

Caifás gritou: “Blasfêmia!” e a multidão ergueu-se, começando a empurrá-Lo, esbofeteá-Lo e cuspir sobre Ele. Foi uma noite horrível na sala de julgamento de Caifás. Eles Lhe cobriram o rosto e O espancaram e perguntavam: “Se Você é profeta, por que Você não diz quem é que Lhe bateu?” Cuspiram-Lhe no rosto. Jesus foi tratado tão cruel e injustamente como jamais um prisioneiro fora tratado. Porém, uma angústia mais profunda veio a Jesus naquela noite. É uma angústia profunda que precisamos considerar, pois envolveu um dos Seus mais íntimos seguidores. Os discípulos tinham fugido, afastando-se vários quilômetros do jardim, quando a multidão tomou a Jesus, mas pelo menos dois deles tinham voltado e seguido de longe, enquanto a multidão fazia seu trajeto de volta à sala de Caifás. Eles eram Pedro e João. Não conseguiram ficar longe por muito tempo. Quando eles entraram no local, João encontrou um lugar perto de Jesus, mas Pedro uniu-se à multidão, perto do fogo, aquecendo-se por causa do ar frio da noite e tentando disfarçar-se. Esta é uma história familiar. Porém, às vezes, não paramos para considerar cuidadosamente os passos que Pedro precisou dar para chegar ao lugar onde pudesse negar seu Senhor. O primeiro passo veio quando Jesus tentou advertir Pedro de Seu perigo. Jesus havia dito: “Esta noite todos vós vos escandalizareis comigo; porque está escrito: Ferirei o pastor e as ovelhas do rebanho ficarão dispersas.” S. Mateus 26:31.

“Disse-Lhe Pedro: Ainda que venhas a ser um tropeço para todos, nunca o serás para mim.” Jesus disse: “Nesta mesma noite, antes que o galo cante, tu Me negarás três vezes.” Pedro insistiu: “Ainda que me seja necessário morrer contigo, de nenhum modo Te negarei.” Versos 32-35. Ele estava seguro de si. Ele se sentia forte. Tinha certeza de que possuía suficiente força de vontade e estrutura para tomar a decisão certa e seguir em frente. Ele se considerava um homem autodisciplinado – alguém com quem Jesus poderia contar. Ele não entendia seu perigo. Este é o primeiro passo que qualquer pessoa dá ao negar seu Senhor.

Seu segundo passo em direção à negação foi ceder à tentação de dormir quando deveria estar orando. Este é um passo fácil de dar, quando você está se sentindo auto-suficiente. Quem precisa orar, quando você pode fazer alguma coisa por si mesmo? Quem precisa de maior poder se tem plena força e poder por si mesmo? Eu gostaria de propor que uma das principais razões pelas quais a maioria dos cristãos não gasta muito tempo em oração é que eles não sentem necessidade do auxílio de Deus tão freqüentemente: Estão fazendo tudo bem por si mesmos. Acham fácil virar-se para o canto da cama para uma hora extra de sono pela manhã, em vez de usarem o tempo na comunhão com Cristo, pois não sentem tanta necessidade de oração. E isso leva ao próximo passo. O terceiro passo que Pedro deu foi começar a lutar suas próprias batalhas. Ele pensava que era suficientemente grande para enfrentar o inimigo em sua própria força. Ele enfrentou a multidão toda com sua única espada. Mas tudo que ele conseguiu foi uma orelha – e isso não era nem mesmo particularmente uma orelha importante – exceto para o servo do sumo sacerdote a quem ela pertencia! Quando nos separamos da fonte de força, esquecemos que nunca devemos lutar contra o inimigo por nós mesmos. Esquecemos que Deus é o único que pode lutar nossas batalhas por nós. Ele é o único suficientemente forte. E quando começamos a movimentar nossas espadas, o resultado inevitável é derrota e vergonha. O quarto passo que Pedro deu naquela noite foi tentar salvar-se a si mesmo. Jesus não Se uniu a ele e não ajudou a lutar suas próprias batalhas da maneira que Pedro esperava. Assim, ele começou a correr. Se Jesus não era grande o suficiente para salvá-lo, então seria melhor que ele se salvasse a si mesmo. E Pedro entrou na escuridão. O quinto passo dado por Pedro foi seguir Jesus à distância. Sua confiança em Jesus tinha sido abalada. Ele não estava pronto para separar-se completa e permanentemente de Cristo, mas agora estava sendo cuidadoso. Ele não queria aproximar-se demais. Manteve deliberadamente alguma distância entre si mesmo e Jesus. E assim, seguiu Jesus à distância. A noite, porém, estava fria. A noite é sempre fria quando nos encontramos longe de Jesus. Você já descobriu isso? Assim, Pedro deu o sexto passo, procurando calor e conforto onde o mundo encontra calor e conforto. Ele juntou-se ao restante da multidão perto do fogo, tentando aquecer-se. Mas sentiu-se estranhamente desconfortável naquela posição, o que o levou a dar o próximo passo, o sétimo, assumindo uma falsa identidade. Ele não estava se sentindo bem. Enquanto o resto da turba ria do mau tratamento dado a Jesus, Pedro se viu com vontade de chorar. Mas isso atrairia a atenção para si, e eles notariam que ele não era realmente um deles. Assim, ele se esforçou para rir mais alto do que qualquer um deles. Quando o resto da multidão amaldiçoou e zombou, seu espírito foi abalado. Ele estava representando uma cena e sem ser bem-sucedido, pois, não demorou, e ele foi notado. Foi então que ele se encontrou no passo final da negação de Jesus. Quando uma pessoa se separa de Jesus e encontra calor e aceitação no mundo e alguém pergunta: “Você não é um deles?” Ela diz: “Não, eu não sou!” É assim que as coisas ocorrem. Quando o calor aumentou e eles apontaram o dedo para Pedro, ele deu o passo final, ao começar a amaldiçoar, blasfemar e negar com juramento de que ele jamais havia conhecido a Jesus. Nesse exato momento, Jesus virou-Se e olhou para Pedro. Jesus virou-Se de onde estava sendo empurrado, arrastado e comprimido. Jesus usando a coroa de espinhos e com sangue escorrendo lentamente – virou-Se e olhou para Pedro. Há diferentes tipos de olhar. Quando Jesus olhou para Pedro, não era um olhar de ira ou desgosto. Era um olhar de compaixão e amor por Seu pobre discípulo. Nós, provavelmente, não o chamaríamos de discípulo de Jesus nesse momento. Até mesmo Pedro estava negando isso. Mas Jesus viu que Pedro ainda era Seu. Pedro não era um hipócrita. Ele realmente queria dizer isso quando afirmou que morreria por Jesus. Mas Pedro era fraco. Pedro tinha sido afastado, passo a passo do lado de Jesus e da confiança plena nEle. Até então, Pedro nem mesmo havia notado o processo. O demônio sempre age assim. Ele não nos toma em um gigantesco salto do penhasco. Ele sabe que veríamos o perigo e chamaríamos imediatamente por Jesus. Assim, ele nos tira daqui para ali, acolá, em pequeninos passos de aparência tão inocente quanto possível, de modo que não percebamos nossa necessidade. Jesus olhou para Pedro com amor, desapontamento e tristeza. Se Jesus alguma vez precisou de algum amigo era exatamente agora. Se Ele alguma vez precisou de alguém para fazê-Lo saber que eles ainda estavam com Ele, ainda estavam do Seu lado, era exatamente agora. Essa é a razão por que a maior angústia ao coração de Jesus veio naquela noite, quando um de Seus mais íntimos amigos negou até mesmo conhecê-Lo. Quando o olhar de Pedro encontrou aquele olhar de Jesus, uma avalanche de recordações o atingiu. Ele se lembrou do chamado no mar, quando Jesus havia dito: “Eu farei de você pescador de homens.” Ele se lembrou da noite no lago, quando ele quase se afogou por causa de sua presunção, mas Jesus estendera a mão e o tinha salvo. Ele se lembrou de como Jesus tinha socorrido na questão do pagamento do imposto do templo. Ele relembrou como, justamente poucas horas antes, Jesus havia lavado seus pés, considerando pacientemente seus protestos. Ele se lembrou de como Jesus lhe havia dito: “Pedro, Satanás deseja tê-lo para que possa peneirá-lo como trigo. Mas Eu orei por você. Eu tenho orado por você. ” Veja S. Lucas 22:31 e 32. Vendo o pálido rosto sofredor de Jesus, os lábios trêmulos, as gotas de sangue, Pedro não podia suportar isso. Ele fugiu da cena e correu para fora do pátio e foi rua abaixo pela escura cidade de Jerusalém. Ele veio ao portão dourado e correu montanha abaixo, atravessando o ribeiro de Cedrom. Ele correu subindo até o outro lado do Jardim do Getsêmani e procurou ao redor, até que encontrou o lugar onde Jesus havia orado, chorado e suado gotas de sangue naquela noite. Pedro se lançou ao chão e desejou morrer. Ele sabia que de todas as dores que Jesus havia enfrentado aquela noite, o que ele havia feito tinha-O atingido mais profundamente. Tal conhecimento atingiu o próprio coração de Pedro. Pedro nunca mais foi o mesmo outra vez depois daquela noite no jardim. A crise de sua vida havia passado. O amor e o perdão de Jesus lhe deram esperança, e desde então ele se tornou apto a falar com segurança e certeza das boas novas do que Jesus estava disposto a fazer até mesmo para o mais fraco de Seus filhos. Uma outra pessoa naquela noite também desejou morrer, e ele foi bem-sucedido nessa tentativa. Seu nome era Judas. Judas provavelmente era o mais esperto dos doze discípulos. Ele havia compreendido o ensino de Jesus sobre o tipo de reino que Ele planejava estabelecer, e caminhou para longe disso, após uma tentativa final e desesperadora de forçar Jesus a fazer as coisas a seu modo. Quando Jesus alimentou a multidão, Judas havia tentado forçá-Lo a estabelecer Seu reino com poder terrestre. Agora ele tentou outra vez forçar Jesus a assumir o trono. Você alguma vez já lutou para pôr Jesus no trono em sua vida? Judas havia elaborado uma trama especial. Isso realmente foi bem além das 30 moedas de prata que ele recebeu dos líderes judeus. Seu propósito real era forçar Jesus a estabelecer um reino terrestre – colocar-Se a Si mesmo no trono. Ele pensou que se entregasse Jesus nas mãos dos líderes religiosos, Ele seria forçado a operar um milagre para salvar-Se, e dessa maneira o reino de Jesus, como um novo Messias, seria estabelecido. Judas tinha certeza de que em resultado de seus métodos espertos, Jesus o apontaria como primeiro-ministro. Tudo foi bem até a hora no Jardim, quando Judas traiu o Senhor com um beijo. Então ele disse aos sacerdotes e governantes: “Prendei-O.” Ele cria plenamente que Jesus forçaria Seus inimigos a se ajoelharem, libertaria a Si mesmo e Seus discípulos e tomaria o trono de Israel. Entretanto, em vez disso, Judas observou à distância Jesus sendo levado como um cordeiro ao matadouro. Ele viu as mãos de Jesus
amarradas. Ele O viu abusado na zombaria de um julgamento diante de Caifás. E, à medida que o julgamento se aproximava do fim, Judas teve a terrível sensação de que ele havia vendido Jesus para Sua morte. Então veio um dos mais dramáticos momentos no julgamento de Jesus. Judas não podia mais suportar. A cena está descrita no livro O Desejado de Todas as Nações: “Viu-se então a alta figura de Judas, comprimindo-se por entre a sobressaltada multidão. Tinha o rosto pálido e decomposto, e borbulhavam-lhe na fronte grandes gotas de suor. Precipitando-se para o trono do juízo, atirou perante o sumo sacerdote as moedas de prata, preço de sua traição a seu Senhor. Agarrando ansiosamente as vestes de Caifás, implorou-lhe que soltasse Jesus, declarando que Ele nada fizera digno de morte. … ‘Pequei’, gritou Judas, ‘traindo o sangue inocente.’ ” – Págs. 721 e 722.

Então ele se lançou aos pés de Jesus e implorou que Jesus salvasse a Si mesmo. Porém, tudo que Jesus respondeu foi: ”Para esta hora Eu vim ao mundo.” Bem, você conhece o resto da história de Judas. Mais tarde, no caminho do Calvário, a multidão afoita foi interrompida em seu trajeto aos pés de uma árvore onde jazia o corpo de Judas, agora separado da corda que ele havia usado para se enforcar. O julgamento diante de Caifás encerrou-se rapidamente após a confissão de Judas diante da assembléia. Sua admissão de culpa em trair Jesus tinha colocado o sumo sacerdote em uma situação desconfortável, e Caifás estava ansioso para escapar dos olhares interrogatórios e embaraçadores. Agora era cedo, pela manhã, e qualquer coisa que eles desejassem realizar deveria ser feita rapidamente – era sexta-feira, o início da Páscoa – o espírito da multidão que havia levado as coisas assim tão longe já estava começando a arrefecer. Se eles fossem forçados a esperar até após o sábado, poderiam ter pouca esperança de levar as coisas até o fim.
Assim, o julgamento de Jesus diante dos mais elevados líderes religiosos da nação escolhida de Deus, foi levado a um encerramento. Esses sacerdotes e ministros de Seu próprio templo O tinham examinado e condenado. Eles agora O declararam digno de morte. Espantem-se, ó Céus, e admire-se, ó Terra!